A saúde cardiovascular deve ser uma preocupação de todos, pois nos países desenvolvidos as doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte. Além disso, mesmo quando não causam a morte, tendem a deixar consequências negativas (por vezes dramáticas) para quem tem a infelicidade de sofrer das mesmas… São vários os fatores de risco associados a estas doenças, tais como a hipertensão arterial e alterações nos níveis de triglicéridos e colesterol no sangue.
Apesar de se ter tendência para considerar as doenças cardiovasculares como um problema da idade adulta, e em particular dos idosos, a sua prevenção deve ser promovida ao longo de toda a vida. Ou seja, torna-se cada vez mais evidente que este aspeto deve ser valorizado e trabalhado desde a infância, pois isso permite melhorar os indicadores de saúde ao longo de toda a vida, diminuindo o risco de aparecimento de várias doenças, nomeadamente as cardiovasculares. Um dos fatores que mais contribui para o aumento ou diminuição desse risco é a alimentação. E no caso da alimentação dos mais novos, há ainda tanto para fazer/melhorar…
Recentemente foi publicado um artigo na revista científica American Journal of Clinical Nutrition, no qual se procurou perceber se o consumo de cerca de 300g/semana de peixe gordo afetava alguns marcadores da saúde cardiovascular em crianças de 8-9 anos. Verificou-se que esse consumo promoveu uma diminuição de cerca de 10% nos níveis de triglicéridos (mais acentuado no caso dos meninos) e o aumento de cerca de 5% no chamado “bom colesterol”. Adicionalmente, no caso das meninas observou-se ainda uma diminuição dos batimentos cardíacos em repouso.
Este trabalho chama a atenção para algo que normalmente não é valorizado, que é a saúde cardiovascular das crianças. Tendencialmente esta preocupação começa a surgir à medida que a pessoa vai envelhecendo, e começa a entrar numa faixa etária de risco para as doenças cardiovasculares. Mas esta ideia tem uma enorme limitação… Essas doenças têm um desenvolvimento lento e gradual, ou seja, a sua parte visível surge a partir de determinada idade, mas os problemas já estão presentes há muitos anos. É como se fosse um iceberg, apenas vemos a parte que está à superfície, mas há uma parte enorme que é “invisível”. E por isso é fundamental criar estratégias que visem uma intervenção logo a partir da infância, no sentido de proteger a saúde cardiovascular o mais cedo possível, e, dessa forma, diminuir o risco ao longo de toda a vida. Os peixes gordos (sardinha, cavala, salmão, robalo, dourada, …) são a melhor fonte alimentar de gordura ómega-3, cujo consumo está associado a vários potenciais benefícios, nomeadamente ao nível da saúde cardiovascular. Pelos vistos estes benefícios iniciam-se ainda na infância, e isto não pode ser desvalorizado. Em Portugal temos a sorte de ter peixe incrível, e por isso o seu consumo deve ser incentivado, tanto por parte das crianças como dos adultos!
Referência do artigo: Am J Clin Nutr, 2019 Dec 1;110(6):1296-1305