Ter um bebé pode ser cansativo. Mas ter um bebé que chora, mexe-se com frequência e tem grandes problemas para dormir, alimentar e / ou entrar em qualquer tipo de rotina, levará a exaustão a um nível totalmente novo para si.
Se isto lhe soa familiar, pode ser que tenha um bebé de necessidades intensas. Se não conhece este termo, deixo-lhe um breve resumo de algumas das características mais comuns dos bebés de necessidades intensas:
- Eles precisam de uma atenção extra, segura e calmante para não chorar
- Eles podem parecer infelizes ou descontentes… particularmente quando recém-nascidos
- Os seus hábitos de alimentação e sono podem ser bastante irregulares e imprevisíveis (comer a cada hora, dormir em pequenos intervalos, etc.)
- As suas reações aos desconfortos cotidianos são extremas. Por exemplo, em vez de se agitarem porque estão com fome, eles gritam na maior capacidade dos seus pulmões.
“Necessidades intensas”, é simplesmente uma maneira de os descrever, uma vez que são efetivamente mais intensos, mais persistentes e menos previsíveis. NÃO se trata de um diagnóstico médico.
No entanto, existem alguns pontos em comum nestes bebés:
- Os bebés de necessidades intensas revelam-se insatisfeitos, preocupados e descontentes desde o nascimento (cerca da metade do tempo)
- Eles tendem a exibir características de alta necessidade o dia todo, não apenas por algumas horas ao final do dia / noite (como acontece no caso das cólicas)
- Eles não superam a ansiedade em 3-4 meses (embora a ansiedade possa diminuir significativamente à medida que crescem e aprendem novas habilidades)
- São facilmente estimuláveis, hipereactivos e têm dificuldade em lidar com esta integração sensorial.
Vou ser honesto consigo e não posso deixar de dizer que ter um bebé de necessidades intensas é difícil. Muito difícil.
Os primeiros meses podem estar entre os mais desafiadores e facilmente pode sentir-se frustrada, ressentida, ansiosa ou deprimida. Provavelmente não é o que esperava quando imaginou ser mãe/pai. Pode sentir-se inadequada como mãe/pai e a privação de sono pode fazer com que sinta que está a perder a cabeça.
Mas…
Também há boas notícias sobre ter um bebé de necessidades intensas.
Embora os bebês de necessidades intensas possam ser mais desafiadores do que os outros, eles NÃO são biologicamente diferentes quando se trata das necessidades básicas. Isso significa que os métodos tradicionais adaptados à realidade do seu bebé, irão funcionar. Dito isto, permita-se à ajuda profissional especializada de quem consegue ler, interpretar e interagir com as necessidades do seu bebé.
Neste sentido, um grupo de profissionais com uma vasta experiência neste perfil de bebés, uniu-se num foco comum: melhorar o mundo do bebé intenso. Felizmente, tenho o privilégio de pertencer a esta equipa multidisciplinar composta por uma médica pediatra (Dra. InÊs Claudino), enfermeira pediátrica (Enf. Cátia Godinho), psicóloga (Dra. Olga Simões), terapeuta do sono (Dra. Ana Ferreira), educadora emocional (Patricia Alegre), fisioterapeuta e osteopata pediátrico (Dr. Gonçalo Trafaria).
Por fim, e acreditando que com pais mais acolhedores e flexíveis, estes bebés de necessidades intensas irão crescer até serem crianças e adultos mais fortes e sensíveis. Neste processo, é fundamental ajustar as expectativas e adotar estilos parentais que provavelmente nunca imaginou … mas as recompensas valem a pena. Estou convencido de que estas são as crianças que acabam por se tornar na próxima geração de líderes!
COMO PODE A OSTEOPATIA PEDIÁTRICA AJUDAR UM BEBÉ DE NECESSIDADES INTENSAS?
A nível craniano os movimentos globais dos diversos ossos cranianos, que nós chamamos de MRP (movimento respiratório primário), são muito limitados, restritivos e muitas vezes (principalmente > 3M) possuem grandes alterações de coordenação e sincronização. É igualmente comum encontrar alterações na mobilidade sutural e membranas de tensão reciproca, pelo que este conjunto de situações só por si condiciona a dispersão de tensões com repercussões em comportamentos exagerados/atípicos e muitas vezes difíceis de gerir por parte dos pais.
A nível fascial existem depósitos extra de energia, eu chamo-lhes “quistos de energia”, pelo que para mim é extremamente importante realizar um reset nestes “quistos energéticos”, que condicionam alterações posturais muito marcadas. Desta forma, será fácil de perceber que uma tensão global mais marcada, irá provocar uma rápida desorganização física e emocional do bebé.
A normalização fascial é o mais difícil e complexo de realizar nestes bebés. Estudos recentes já identificaram a existência de fibras musculares mais especializadas em registar emoções, tornando parte de um músculo suscetível a lesões, ou disfunções consequentes de processos emocionais.
Desta forma, estes bebés estarão sempre em alerta. O seu sistema nervoso ainda imaturo e muito sensível, está à mercê de todo e qualquer estímulo. Este bebé, ou mais tarde a criança, não é capaz de se alhear de estímulos não importantes e não consegue concentrar-se naqueles que lhe são úteis.
Todos os sinais são recebidos e transmitidos pelos neurotransmissores sem serem selecionados.
RESULTADO?
Uma descarga no sistema nervoso, levando a uma actividade descontrolada. Da mesma forma, estas situações têm repercussão no sono. É-lhes difícil dormir um sono profundo, eles passam de um estado de vigília ou de sono profundo para um estado de choro incontrolável, como se chorar fosse a única maneira de se controlar! Quando este choro termina, eles permanecem muito sensíveis e em alerta, havendo imensa dificuldade em se organizar. Esta velocidade de desorganização é muito grande e, pela dificuldade em gerir e dissipar as tensões por estas limitações condicionam o seu reequilíbrio, solicitando ajuda para o fazer (a mãe/pai). Assim, é criado uma dependência de ajuda externa para a reciclagem e reequilíbrio destas tensões que mantidas no tempo poderão condicionar problemas relacionados com auto-estima, confiança, independência emocional e alguma agitação com perturbações na capacidade de concentração e cumprimento de tarefas.
Por fim, pretendo reforçar a mensagem de que, a ajuda especializada existe, não se permita chegar ao limite ou aceitar que não haverá nada a fazer, essa opção pode levar ao colapso emocional da mãe, do casal, da família.