Um sono de qualidade é essencial para o desenvolvimento e crescimento das crianças. A capacidade de dormir é aprendida e ajuda à manutenção da saúde, ao crescimento e ao correcto desenvolvimento cognitivo dos nossos pequeninos.
Sabiam que enquanto as crianças dormem liberta-se a hormona do crescimento? Responsável pelo crescimento e desenvolvimento físico normal?
Um sono reparador tem também enormes benefícios ao nível do cérebro dos mais pequenos, ajudando a que se concentrem mais, sejam mais resilientes na aprendizagem e se mantenham mais atentos. Além de tudo isso, o sono ajuda ainda ao desenvolvimento emocional pois as crianças, ao estarem descansadas, conseguem lidar melhor com as frustrações, relacionar-se melhor com os seus pares e ter maior tolerância ao Outro. Na realidade, este é um aspecto que toca a toda a família pois se há coisa que a falta de sono afecta verdadeiramente é a harmonia familiar.
Por isso é tão importante que ensinemos os nossos filhos bons hábitos de sono desde cedo.
E como o podemos, então, fazer?
* Rotinas – aquela palavra “chata” que passamos a ouvir depois de sermos mães! Não significa que vivamos num quadrado do qual não saímos. Não significa que os dias terão de ser todos iguais ou que temos de cumprir militarmente horários. Significa que devemos estruturar o dia dos nossos filhos. Que as refeições, o horário para acordar e deitar devem ser mais ou menos fixos – o que não quer dizer que não possam existir excepções. Quer dizer que devemos criar um bom ritual para adormecer em vez de tentarmos deitar os nossos filhos a meio de uma brincadeira, por exemplo. As rotinas são como linhas orientadoras, limites ou balizas num dia em que quase tudo pode ser novidade. Os nossos filhos precisam de entender a sequência dos acontecimentos na vida deles para não serem surpreendidos e para aceitarem bem essa estrutura que lhes definimos. Ao final do dia a rotina é ainda mais essencial. Normalmente é o melhor momento do dia dos pequenos – quando finalmente estão com o pai e com a mãe. Se os apressamos, se não os preparamos para o sono, será mais difícil que queiram (ou se deixem) relaxar para dormir.
* Deitar cedo – desde que haja tempo para estar com os pais, deitar cedo é bastante importante para um sono reparador. Ao contrário do que por vezes se faz – cansar muito o miúdo para que depois durma melhor – se aproveitarmos o relógio solar e os deitarmos no momento em que a melatonina (hormona do sono) começa a dar um empurrão ao nosso corpo, teremos maiores probabilidades de ter um pequenino a adormecer mais facilmente. É importante não deitarmos os nossos filhos exaustos, já demasiado tarde. Quanto mais cansados, mais desregulados estarão e menos tranquilamente conseguirão dormir.
* Autonomia no adormecer – Os bebés sabem dormir e precisam de dormir (e nós também). Conseguir adormecer de forma autónoma – sem ser necessário embalar, enfiar os dedos no nosso nariz, dar a mão, mamar ou ser abanado no carrinho de passeio – é bem mais fácil do que parece e muito necessário a um sono contínuo e reparador. Porquê? Porque se os nossos filhos adormecem com uma determinada “fotografia” e acordam sem ela, é natural que sintam que precisam da mesma ajuda para readormecer. Ninguém está a falar em deixar uma criança a chorar sozinha num quarto, nem a exigir que um bebé de 2 meses consiga adormecer sozinho e dormir 12h. Como em tudo, é preciso mente e coração abertos e bom senso. Mas sim, é perfeitamente expectável que um bebé a partir dos 6 meses consiga adormecer sozinho, sem choro, pacificamente e dormir grande parte da noite. Por isso, desde que tenham bebés confortáveis e saudáveis, não lhes neguem a cama. Vão tentando ensina-los, com paciência e amor, estando por perto para os irem ajudando e acalmando se necessário pois eles são capazes de muito mais do que pensam.
Além das rotinas adequadas à família e à idade, do deitar cedo para aproveitar o empurrão da melatonina e de ensinar os nossos filhos a serem autónomos no processo de adormecer, é também importante considerar outros aspectos no sono das crianças e que, quando não ajustados, podem ter um grande impacto no seu descanso.
Introdução da Diversificação Alimentar/Sólidos:
O termo “sólidos” é muito vago… na realidade, depois de estabilizada a alimentação, essa introdução possa ajudar a dormir melhor, mas normalmente não inicialmente. É importante entender que alimentos comem e quantas vezes comem para se perceber se os “sólidos” estão ou não a ajudar a dormir melhor. Apressarmo-nos a empanturrar os nossos filhos com comida nem sempre é o ideal. Quando começam a introdução da diversificação alimentar, o seu sistema digestivo está habituado apenas a digerir leite e por isso pode demorar algum tempo até que se acostumem. Durante a noite, enquanto estamos deitados, o nosso sistema digestivo funciona mais lentamente, daí que o bebé lute um pouco mais para digerir alimentos sólidos de noite do que durante o dia. O que sim… pode provocar despertares noturnos.
É, por isso, importante que se comece a introdução dos sólidos à hora do almoço. Assim, os pequeninos têm o resto do dia para fazer a digestão antes de se deitarem durante a noite. A proteína também é bem mais difícil de digerir do que a fruta e vegetais. Daí que também nos primeiros tempos deva ser dada idealmente ao almoço. Ao jantar apostem mais nos vegetais e hidratos de carbono pois o bebé vai ficar mais saciado e com uma barriguinha mais tranquila.
Luz
Ao contrário do que se “vende”, as luzes de presença são desnecessárias para os pequeninos. Qual é o propósito da luz de presença? Ajudar em caso de medo do escuro… mas os bebés não têm medo do escuro. As mães é que costumam ter! Uma coisa é uma criança a partir dos 3 anos pedir-nos uma luz acesa porque tem medo. E aí, claro que a deixamos! Outra é termos uma luz presente a noite toda para um bebé que não precisa dela.
O que a luz de presença faz é dar aos bebés estímulo e distração, fazendo com que seja mais difícil (re)adormecer. Por isso, toca a escurecer o quarto.
A Última Sesta da tarde
As sestas são essenciais para uma boa noite de sono. Mas o sono diurno desajustado pode sabotar uma boa noite de sono. Principalmente a ultima sesta da tarde, aquela entre as 17h e as 18h. Normalmente nos bebés a partir dos 9 meses esta sesta já desapareceu. A sesta do final da tarde, quando desajustada, pode ser até responsável pelo despertar demasiado cedo de manhã. Obviamente que é necessário conversar sobre cada bebé em particular para entender como se organizar o seu dia , mas em linhas gerais, a última sesta da tarde não deve ser, de todo, a sesta mais longa do dia.
Saltos de Desenvolvimento
Grandes saltos de desenvolvimento, motores e cognitivos, podem aldrabar o sono dos nossos bebés. É bastante notório aos 4meses e por exemplo aos 8, quando o bebé começa a sentar-se, a aprender a gatinhar e até a tentar colocar-se de pé. O cérebro dele está em ebulição e o sono sofre com isso. A boa notícia é que os saltos de desenvolvimento são temporários e normalmente as suas alterações duram cerca de uma semana ou duas. O principal a ter em consideração é manter o nosso comportamento tranquilo e de preferência inalterado enquanto o bebé passa pelas suas próprias mudanças, ajustando ligeiramente – claro está! – sempre que percebermos que o bebé precisa um pouco mais.
Dormir bem é mais fácil do que parece. Nunca mais será o mesmo depois de sermos pais, mas não tem de ser uma luta ou uma guerra. E vale tanto a pena investir no descanso deles pois seguramente teremos uma experiência desta aventura da Maternidade muito mais luminosa e feliz.