Meghalaya, na Índia, é um lugar frequentemente assolado por chuvas torrenciais, que chegam a atingir 15 metros por ano. A região é uma das mais húmidas do mundo e é conhecida pelos seus rios e córregos de fluxo rápido, que com as fortes chuvas, são capazes de destruir uma ponte convencional. Por isso os habitantes decidiram que em vez de construir pontes, iriam cultivá-las. Pontes absolutamente maravilhosas. É um belíssimo exemplo de arquitetura sustentável e de como o homem pode conviver em paz com a natureza, mesmo quando ela mostra sua força.
Durante a monção a paisagem transforma-se, com os rios e cascatas dos montes khasi a transbordarem, isolando vales e formando ilhas na floresta. Os habitantes locais, as tribos khasi, criaram uma solução arquitetónica e ecológica única no mundo: uma rede de pontes de madeira e escadarias que atravessam o seu território, e que são literalmente à prova de água. O que estas pontes têm de especial é que estão vivas, continuam a crescer e a fortalecer-se durante séculos.
São pontes em permanente construção. Não acabam. Vão crescendo ano após ano, de década em década, de geração em geração. São pontes com história e com vida, literalmente. O processo de criação dessas verdadeiras obras de arte naturais é passado de avós para pais e de pais para filhos. Uma ponte pode demorar entre 10 a 15 anos a ficar totalmente funcional. Depois disso, duram mais de 500 anos.
A árvore-da-borracha indiana é muito comum nesta floresta tropical. Cresce na margem dos rios, envolvendo rochedos e chão numa rede de raízes aéreas que procuram solo estável em todas as direções, de maneira a sustentar a árvore. Os khasi aproveitam o potencial destas raízes, tecendo-as e reforçando-as até a árvore crescer e formar uma ponte com força e tamanho para poder ser atravessada. Simultaneamente, é preciso alimentar as raízes, colocando folhas e casca de árvores nos troncos que as guiam, até conseguirem atingir o solo, do outro lado do rio, e começarem a alimentar-se por si próprias. O processo demora quarenta a cinquenta anos até se conseguir uma ponte grande e sólida, verdadeira obra de amor dedicada às gerações seguintes.
Quanto mais antiga é a árvore, mais forte é a ponte. E cada ano fica mais robusta chegando a suportar mais de 50 pessoas em simultâneo. Enraizada no chão, aguenta a violência dos rios que descem as montanhas, arrastando pedregulhos do tamanho de casas e invadindo as margens durante semanas – coisas que as vulgares pontes de cimento, ou feitas de árvores mortas, não aguentariam por muito tempo.
Árvores especiais moldadas pela sabedoria dos mais idosos e sábios. Todos os anos, em “aulas” práticas, os mais jovens aprendem a arte com os mais experientes. Saber que raízes utilizar, que nós e modos de entrelaçar as raízes usar, que espaçamentos, que preparação para que o crescimento das raízes seja realizado no sentido que lhes seja conveniente.
É assim que passam conhecimento. Sem livros, sem guias ou manuais de instruções, sem engenheiros especializados em estruturas, mas com sabedoria. Saberes que passam de geração em geração de como quem tenha parado no tempo. E ainda bem! Não só pela utilidade de não uso de betão e estruturas artificiais, mas pela qualidade de relação que se estabelece e dos valores fortes que a compõem.
É uma construção natural e ao mesmo tempo inspiradora. Mas é isso que acontece quando se constrói a pensar no futuro: em vez de cortar árvores para fazer pontes, os khasi transformaram-nas em pontes. Magia pura – e uma ideia profundamente ecológica, com resultados extraordinários.
Assim como as pontes da índia permanecem fortes pelo entrelaçar de vida, de esforço de união e resiliência, também as famílias criam pontes vivas. Pelos afectos, pelos carinhos, pelos esforços, pelas vivências, mas sobretudo pelos amores que pensam no futuro. Fazer hoje a pensar no amanhã nem sempre é bem compreendido pelos mais pequenos. Mas é um modo de criar pontes emocionais e estruturais que nos conectam e fortalecem para a vida. São assim as pontes vivas da família, as que nos ligam aos outros e nos preparam para todos e para o futuro.