Esta é, claramente, uma questão muito subjectiva e para a qual não há uma resposta universal. No entanto, pela sua importância torna-se necessário pensar bem no assunto, pois as novas tecnologias não são brinquedos “comuns”.
Quase todas as crianças contactam desde cedo com os chamados ecrãs. É extremamente difícil contrariar essa tendência (se bem que não é impossível), pelo que importa tentar que essa exposição obedeça a algumas regras para se poder aproveitar os efeitos benéficos sem ter a consequência dos efeitos mais negativos. Por esse motivo, torna-se lógico dividir as crianças em duas faixas etárias diferentes, para se poder analisar melhor a questão: abaixo dos 2 anos e acima dos 2 anos.
Crianças com menos de 2 anos de idade
Está actualmente bem estabelecido que o contacto com os ecrãs deve ser evitado abaixo desta idade. Esta é, aliás, uma recomendação formal da Academia Americana de Pediatria, que foi reforçada em 2016 num documento publicado por essa entidade.
Alguns dos principais problemas associados ao uso precoce são os seguintes:
- Limita o desenvolvimento da linguagem verbal – a linguagem aprende-se através da socialização e da necessidade de comunicar com as outras pessoas
- Condiciona o desenvolvimento da linguagem não verbal – este tipo de comunicação é exclusivo do contacto “frente a frente” com os outros, que permite perceber muita informação através das expressões faciais, forma de olhar e posição corporal, entre outros
- Dificulta a percepção da tridimensionalidade – tudo o que aparece num ecrã tem apenas duas dimensões, o que faz com que as crianças pequenas fiquem imitadas na aquisição das noções 3D e de profundidade
- Limita a socialização – estar “colado” a um ecrã faz com que as crianças não socializem e não partilhem interesses com quem as rodeia, aspecto que é completamente contra a essência do ser humano
Estes são apenas alguns pontos de reflexão, certamente haveria mais alguns para discutir.
Crianças com mais de 2 anos de idade
A partir desta idade já faz mais sentido que as crianças comecem a contactar com este tipo de tecnologias. Há muitas aplicações que estimulam a lógica e o raciocínio e podem ser uma fonte de aprendizagem de alguns conceitos. No entanto, a principal questão a responder é: será que as crianças precisam de ter um tablet próprio? O sentimento de posse pode dificultar algumas regras, nomeadamente a limitação do tempo que se passa com esse tipo de entretenimento. Ao contrário de outros brinquedos, a capacidade de criar dependência das novas tecnologias é um perigo real, pois os estímulos são tão intensos e diversificados que rapidamente todo o resto começa a perder interesse. Os puzzles, blocos de construção, carrinhos, bonecas e bolas são rapidamente colocados em segundo plano e as crianças também precisam deles para se desenvolver adequadamente.
Assim, acho que o contacto com o tablet pode e deve existir a partir dos 2 anos, mas como em tudo na vida, deve ser feito com bom senso. E, para que isso seja uma realidade, confesso que me parece mais lógico que o tablet seja de todos e se partilhe entre os diferentes membros da família do que ser algo que pertence à criança, da mesma forma que acontece com um peluche da Patrulha Pata, por exemplo.
Quando houver necessidade (por motivos de estudo ou trabalhos escolares) pode ser algo a ponderar, mas antes parece-me claramente desnecessário.
Em jeito de conclusão, pode-se afirmar que as novas tecnologias vieram para ficar e isso é uma realidade com a qual temos que conviver. Não considero que isso seja negativo (bem pelo contrário!), até porque trazem bastantes vantagens, mas é preciso que haja bom senso da parte dos pais para não queimar etapas desnecessariamente. Não é preciso, de todo, que as crianças se transformem em verdadeiros “técnicos informáticos” desde os primeiros anos de vida!
Categoria Conselhos. Autor Hugo Rodrigues.
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