O sono nas crianças é um tema extremamente controverso e sobre o qual existem muitos estudos. No entanto, é fundamental perceber que o sono nos primeiros anos de vida não diz respeito apenas ao período nocturno e que é importante prestar atenção também ao que é realizado durante o dia, as sestas.
Em Junho de 2017 foi publicado pela Sociedade Portuguesa de Pediatria um documento precisamente sobre este tema. Nele são emitidas uma série de recomendações que pretendem uniformizar algumas práticas, de forma a proporcionar às crianças um melhor sono diurno, seja em termos de duração, seja em termos da idade em que ocorre.
É hoje em dia consensual que a privação de sono nos primeiros anos de vida pode estar associada a diversos problemas, tais como:
– Maior impulsividade
– Menor atenção
– Interferência nos processos de memorização e aprendizagem
– Irritabilidade
– Dificuldade na auto-regulação emocional
– Obesidade / excesso de peso
– Hipertensão arterial
Assim, facilmente se percebe que se trata de um problema sério, que deve ser abordado de forma responsável por todos os pais, educadores e profissionais de saúde. Relativamente ao sono nocturno, há actualmente várias “correntes”, desde as mais permissivas às mais rígidas. É um tema muito interessante e bastante polémico, pelo que será abordado num próximo texto. Quanto ao sono diurno, são menos os estudos e as recomendações. No entanto, para que não ocorra uma privação de sono, é fundamental perceber que devem ser respeitados ambos, ou seja, não basta que as crianças durmam bem de noite.
Perante este facto, é importante tentar perceber o que se passa com a realidade portuguesa relativamente às sestas. O panorama genérico é o seguinte:
– Até aos 2 anos faz sesta a quase totalidade das crianças
– Aos três anos a grande maioria das crianças ainda faz sesta
– A partir dos 4 anos, há uma redução dramática na percentagem de crianças que ainda dorme durante o dia, passando a ser uma clara minoria
O problema desta questão prende-se com o facto da maioria das crianças não conseguir perfazer de noite o total de horas que deve dormir, motivo pelo qual a sesta se revela de grande importância. Se esta não for realizada, elas vão ficar num estado de privação crónica de sono, com todas as consequências que foram descritas acima. E, se o sono nocturno é uma responsabilidade dos cuidadores, cabe aos estabelecimentos de ensino a responsabilidade de zelar por um sono diurno adequado para todos os seus utentes.
Deste modo, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda atualmente que:
– Até aos 3 anos de idade todas as crianças devem fazer a sesta.
– Entre os 3 e os 5 anos a sesta deve ser incentivada, mas não ter um carácter obrigatório.
Após os 4 anos nem todas as crianças precisam de a fazer. No entanto, essa necessidade deverá ser avaliada em conjunto pela família e educador de infância, seja em termos de realização regular e diária, seja em termos de necessidade ocasional.
O maior problema relativamente a este ponto prende-se com o facto da maioria dos Jardins de Infância públicos (e alguns privados) não estarem preparados para a realização das sestas, do ponto de vista material e de recursos humanos. No entanto, esse é um assunto que deve ser discutido seriamente e, com urgência, dotar os estabelecimentos de ensino das condições necessárias. Se isso não for feito, estamos seguramente a condicionar o descanso e, consequentemente, a saúde das nossas crianças.