Esta é uma pergunta que ouvimos com muita frequência nas consultas de terapia da fala. Costumo dizer que não devem preocupar-se, mas devem estar atentos e saber o que pode ser facilitador para o desenvolvimento do seu filho. Não fazer nada raramente é solução.
De facto, quando uma criança apresenta repetições e/ou prolongamentos na fala nesta faixa etária causa bastante preocupação nos pais. Será que o meu filho vai gaguejar? O que devo fazer? Será que é melhor não dizer nada? Esta situação pode causar alguma ansiedade aos pais e modificar a forma como interagem e comunicam com a criança.
Há muitas dúvidas sobre este tema, mas também muitos mitos instalados na nossa sociedade. Vamos então por partes…
Com o desenvolvimento da linguagem vai aumentando o vocabulário e quando começam a construir frases, podem verificar-se períodos de disfluência (alterações na fluência ou fluxo da fala). Ninguém é totalmente fluente, logo pequenas disfluências podem ser consideradas normais, ou esperadas. Por vezes todos hesitamos, reformulamos uma frase, repetimos algumas palavras, e isso poderá ser encarado como esperado.
Algumas das manifestações mais frequentes são repetições, pausas, hesitações, prolongamentos ou bloqueios que quebram o fluxo normal da fala e que podem interferir com a comunicação da criança.
Nas crianças, quando isso acontece, temos de considerar sempre a sua idade, as manifestações associadas e se existem casos de gaguez na família, uma vez que os aspetos genéticos podem ter um papel relevante na gaguez, o género da criança (mais frequente nos meninos), e o desenvolvimento global da linguagem.
A gaguez é involuntária, ou seja, a criança não consegue evitar a situação por mais que se esforce. Quando a criança tem noção da sua dificuldade tende a evidenciar algum receio de falar, como forma de evitar gaguejar, que se pode manifestar de diferentes formas: piscar os olhos, bater com o pé, evitar o olhar, ou outros.
Mas como devemos agir perante uma criança que gagueja? Ignorar? Pedir para respirar fundo? Pedir para falar devagar? A verdade é que existem comportamentos que podem ser facilitadores do processo comunicativo e da fluência da fala, este não são propriamente facilitadores e geram mais tensão e menos interesse no processo comunicativo por parte da criança. Assim, perante uma situação de disfluência podemos (10 dicas facilitadoras):
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Falar de forma calma, natural, e sem pressa!
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Evitar vocabulário demasiado complexo para a idade da criança.
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Encorajar sempre a criança a falar, focando sempre o conteúdo da sua mensagem e não apenas a forma como o faz.
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Deixe a criança acabar de falar. Evite interromper ou terminar as suas frases.
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Dar tempo entre as trocas comunicativas. Evitar responder imediatamente a seguir.
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Evitar dar demasiada atenção à forma como a criança está a falar ou coloca-la no centro da ‘atenção’ comunicativa (nestes momentos).
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Atenção à sua comunicação não verbal (gestos, expressão facial, olhar), que muitas vezes transparecem alguma ansiedade intrínseca a estes momentos, mas que são de evitar.
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Evitar dizer: “respira fundo”, “pensa antes de falar”.
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Explorar as competências de fala em tarefas como o canto ou fala em coro.
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Normalizar o sucedido, por exemplo dizer: “Não fiques triste. Às vezes as palavras também custam a sair ao pai e à mãe. Não há problema.”
5 MITOS SOBRE GAGUEZ
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A criança gagueja porque pensa mais rápido do que fala.
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A criança gagueja porque apanhou um susto.
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O stresse e ansiedade são a causa da gaguez.
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A gaguez passa com o tempo. O melhor é ignorar.
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As crianças que gaguejam são menos inteligentes
Como mensagem final, se pode “passar”? Pode! Mas quanto melhor entenderem a situação e mais informações tiverem sobre os comportamentos facilitadores, mais facilmente poderão ajudar nesta situação.
Por isso, em caso de dúvidas, aconselhe-se com o Terapeuta da Fala.