Há crianças que choram no regresso à Escola. E há crianças que choram muito e durante muito tempo no regresso à Escola.
As que choram pela mudança de rotina, pela exigência dos tempos de escola em contraponto com os tempos de férias mas que, havendo um abraço sentido e diário, o conforto volta a restabelecer-se.
E as que começam a chorar mesmo antes das lágrimas caírem. Talvez nos pareça que choram só pela escola, mas precisamos de saber mais. Como é que reagem à separação? Ao imprevisto? E às saudades? Precisamos de saber como vivem as idas a festas de anos de amigos, a ficar em casa dos avós, ou a uma visita de estudo/passeio escolar. Lidam mal com a alteração de planos de atividades familiares, exigindo saber tudo o que vai acontecer em cada dia.
Habitualmente imaginam tragédias, sequestros, perdas, “que a mãe não volta”.
A tristeza começa a tornar-se visível, como se o corpo começasse a chorar. Surgem sinais de nervosismo persistente, perda de apetite, enxaquecas seguidas (ou não) de vómito, pesadelos, noites mal dormidas e, para os mais crescidos, até se contam os dias até ao regresso. A noite pode ser vivida com muita ansiedade, na qual a cama dos pais parece ser o único ansiolítico que resulta.
Ficam visivelmente ansiosos mesmo antes de viverem os acontecimentos.
Dizemos-lhes várias vezes ”não sofras por antecipação”.
As crianças podem dizer aos pais “tenho pensamentos maus”, “sinto uma bola na garganta”, “tenho medo que tu morras”, ou dizem “não gosto de ir para escola”, “queria que estivesses lá comigo”, “não quero que seja o avô a vir-me buscar, tens de ser tu”.
Mas este sofrimento não é só pela Escola. Compreendemos, então, que o sofrimento está presente em qualquer momento de Separação. No caso destas crianças podemos estar perante a Perturbação de Ansiedade de Separação.
A ansiedade é sentida não só por se falar no tema escola, como também quando se fala em qualquer outro contexto que implique a separação da figura de vinculação e apego. Vivem no futuro, ficando notoriamente aflitas dias antes de qualquer momento que possa gerar o medo de perder essa figura e/ou pelo medo do próprio morrer (angústia de morte). A Ansiedade de Separação pode agudizar-se com a morte de um familiar, com uma mudança no sistema familiar (nascimento de um irmão, divórcio, ausências profissionais de um dos pais,…), pela existência de traços ansiosos transgeracionais.
Em casa, este problema deverá ser vivido como um apelo. São crianças que estão com o seu sentido de segurança e confiança no mundo profundamente abalado. São, habitualmente, crianças que tendem a querer controlar os acontecimentos, subitamente bloqueadas para confiar e acreditar.
Como é que os pais podem ajudar?
Ver com o coração (Saint-Exupéry, A. , O Pequeno Príncipe, 1943) será uma importante ferramenta para ajudar os filhos. Na infância, as emoções estão amplamente espelhadas no comportamento. Assim, o trabalho de ajudar as crianças a reconhecer as suas emoções nos seus comportamentos, pode e deve ser apoiado pelos pais.
Não obstante, esta problemática requer acompanhamento especializado. A Ansiedade de Separação deve ser acompanhada por um conjunto de profissionais da área da saúde mental especialistas na infância e Juventude – Psicólogo Clínico e Pedopsiquiatra. Em conjunto, a criança irá ser capaz de fazer o reconhecimento dos seus estados afetivos e do outro, caminhando para poder encontrar uma alternativa para acalmar e significar os seus medos e ânsias.
E será através desta jornada que a Infância se pode construir menos sofrida, na qual a Escola e as separações se podem representar de forma segura.