Na semana passada a DGS passou a recomendar a administração universal da vacina contra o SARS-COV2 a todos os adolescentes a partir dos 12 anos. Desde então, criou-se uma grande celeuma e surgem opiniões de todos os quadrantes, muitas vezes até de pessoas que não estão ligadas à saúde, mas que opinam como se tivessem um grande conhecimento de causa. É verdade que é um tema sensível, mas é precisamente por isso que decidi escrever este texto, para esclarecer alguns aspetos que me parecem importantes.
Segurança da vacina
Na Europa, quem atesta a segurança dos medicamentos (sim, as vacinas são um grupo particular de medicamentos) é a Agência Europeia do Medicamento, também conhecida por EMA. É composta por um conjunto de peritos dos países europeus que analisam de forma exaustiva e detalhada todos os estudos que os laboratórios apresentam para a aprovação dos seus medicamentos e, em relação às diferentes vacinas contra o SARS-COV2, foi exatamente isso que aconteceu. Inicialmente esses estudos contemplavam apenas adultos, mas, à medida que foram surgindo dados sobre a administração das vacinas em adolescentes com mais de 12 anos, essa indicação foi também avaliada. E, após esse processo, a EMA constatou que as vacinas de mRNA (pertencentes à Pfizer e à Moderna) cumpriam todos os requisitos para serem aprovadas para utilização nessa faixa etária, uma vez que se revelavam seguras a partir dos 12 anos. Como curiosidade, também a congénere americana (FDA) chegou às mesmas conclusões.
Eficácia
Tal como em relação à segurança, a eficácia da vacina tem também que ser escrutinada pela EMA. E as conclusões foram semelhantes, as duas vacinas descritas acima são, pelo menos, tão eficazes em adolescentes com mais de 12 anos como em adultos.
Recomendação
Perante uma ameaça global como esta pandemia, é crucial haver uma estratégia nacional que tente combatê-la da melhor forma possível. E, no nosso país, quem centraliza essa responsabilidade é a Direcção-Geral da Saúde. Por esse motivo, é muito importante que toda a gente “fale a mesma língua“, ou seja, que as recomendações sejam seguidas pela população da forma mais uniforme possível, para não comprometer os planos traçados.
Existem riscos?
Tal como aconteceu para a doença, também em relação a esta vacina estamos a ver os acontecimentos a desenrolar-se em tempo real e o conhecimento vai mudando à medida que sabemos um pouco mais. Por isso mesmo é que podemos afirmar que, à luz do que se sabe atualmente, o risco da COVID-19 nesta faixa etária (que, efetivamente, é muito baixo) é maior do que o risco da vacina (que é extremamente baixo, mesmo considerando as tão faladas miocardites e pericardites, que tanto podem surgir com a vacina como com a infeção pelo SARS-COV2). E é por isso também que em Portugal, tal como noutros países (Estados Unidos, Canadá, Israel, Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Áustria, Suíça, só para citar alguns), a DGS recomendou a vacinação dos adolescentes a partir dos 12 anos de idade.
Posto isto, pode-se responder à questão colocada acima de forma simples:
“Sim, existem riscos, como é óbvio. Mas a relação risco-benefício é, de acordo comos dados mais recentes, benéfica para a vacina. Por esse motivo, na minha opinião, faz sentido seguir as recomendações da DGS e, todos juntos, continuarmos a combater esta pandemia, para podermos voltar a ter, com a maior brevidade possível, a nossa vida de volta!”
Conclusão
Em jeito de conclusão, gostaria apenas de reforçar dois aspetos que me parecem fundamentais:
- Na Europa, quem pode atestar a segurança da vacina é a Agência Europeia do Medicamento, que autorizou a administração das vacinas de mRNA da Pfizer e da Moderna a partir dos 12 anos
- Quem tem a capacidade e o dever de emitir recomendações nacionais sobre a administração da vacina em Portugal (desde que sejam cumpridas as aprovações da EMA) é a DGS
Tudo o que esteja fora destas duas verdades são apenas opiniões pessoais que, mesmo que não estejam erradas, são apenas isso, opiniões pessoais…