As otites são das infeções mais frequentes em pediatria e, na maior parte das vezes, associam-
se à prescrição de antibióticos. Mas pode não se justificar ser sempre assim…
Tal como a maior parte das infeções, as otites podem ser provocadas por bactérias ou vírus,
pelo que o se tratamento vai ser, obrigatoriamente, diferente em cada uma das situações. Tal
como explicado num post anterior, os vírus são muito mais frequentes e causam doenças auto-
limitadas, ou seja, que passam por si sem necessitar de nenhum tratamento em particular.
Pelo contrário, as bactérias são mais invasivas e, geralmente, justificam o tratamento com um
antibiótico, para controlar a situação.
Com as otites passa-se exatamente isto. Estima-se que mais de 80% das otites sejam
provocadas por vírus e, nesses casos, não existe necessidade de prescrever um antibiótico, ao
contrário do que está um pouco enraizado na nossa cultura. Na verdade, não é muito fácil
distinguir as duas situações, pelo que, se não existirem sinais de alarme, o mais provável é
mesmo tratar-se de uma otite vírica. E, nesses casos, o tratamento implica apenas alívio do
conforto, porque será o tempo a solucionar o problema.
Assim, em jeito de conclusão, diria que, na maior parte das vezes, a melhor abordagem de uma
criança com otite passa por dar um anti-inflamatório durante 48 horas para ver a evolução, tal
como definido pela Direção-Geral da Saúde. Se não houver melhoria, ou se houver algum
agravamento entretanto, pode justificar-se uma re-avaliação, para ponderar a prescrição de
antibiótico. As exceções, que podem implicar antibiótico logo de início, são as otites bilaterais
(nos dois ouvidos), com saída de pus pelo ouvido, bebés pequenos ou um mau estado geral da
criança.