As células estaminais são células imaturas capazes de dar origem a células diferenciadas e com funções específicas no nosso corpo. As características únicas das células estaminais permitem-lhes, ao longo da nossa vida, a substituição de células que vão morrendo e a reparação de tecidos danificados, sendo, por isso, fundamentais para o bom funcionamento do nosso organismo. Adicionalmente, as suas propriedades conferem-lhes um grande potencial para o tratamento de diversas doenças.
A utilização terapêutica de células estaminais adultas, isto é, de todas as (células estaminais) que se podem obter após o nascimento, é já uma realidade bem estabelecida, nomeadamente nos transplantes de células estaminais hematopoiéticas da medula óssea e do sangue do cordão umbilical.
À semelhança da medula óssea, o sangue do cordão umbilical é enriquecido em células estaminais hematopoiéticas, que são capazes de originar todos os tipos de glóbulos brancos, os glóbulos vermelhos e as plaquetas. O sangue do cordão umbilical e a medula óssea são assim usados no tratamento de doenças do foro hemato‑oncológico (como leucemias e linfomas), em imunodeficiências e em alguns tipos de anemias, entre outras, quando é necessário reconstituir o sistema sanguíneo e imunitário dos doentes. Além disso, pela diversidade de células que é possível encontrar nestas fontes de células estaminais, ambas se encontram a ser testadas no âmbito de ensaios clínicos, noutras áreas, em crianças e em adultos, nomeadamente em doenças do foro neurológico, como autismo, paralisia cerebral e AVC.
Para além do sangue do cordão umbilical e da medula óssea, também o tecido do cordão umbilical e o tecido adiposo são ricos em células estaminais adultas, com potencial para o tratamento de diversas doenças. O tecido do cordão umbilical e o tecido adiposo são enriquecidos em células estaminais mesenquimais que têm capacidades anti-inflamatórias e imunorreguladoras, encontrando-se em estudo principalmente para o tratamento de doenças inflamatórias e com envolvimento do sistema imunitário.
Das células estaminais adultas, destacam-se as células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical por serem obtidas a partir de uma colheita simples e indolor (para a mãe e para o bebé), por serem células muito primitivas e com elevada capacidade de multiplicação.
No que diz respeito à utilização de sangue do cordão umbilical, já se contabilizam mais de 45 mil transplantes, em crianças e em adultos, para o tratamento de mais de 90 doenças, incluindo doenças oncológicas, deficiências medulares, doenças metabólicas, imunodeficiências e hemoglobinopatias, entre outras. O tecido do cordão umbilical é uma fonte de células estaminais que ganhou destaque nos últimos anos, estando registados mais de 300 ensaios clínicos com estas células, que visam testar a sua aplicação clínica num leque alargado de doenças, nomeadamente em doenças de caracter autoimune, pela sua capacidade de regular a atividade do sistema imunitário. Neste contexto, diabetes tipo 1, lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla são exemplos de doenças cujo tratamento poderá vir a ser feito com recurso a células estaminais do tecido do cordão umbilical. Estas células têm ainda conduzido a resultados favoráveis no contexto da transplantação hematopoiética, como complementares das células estaminais hematopoiéticas (da medula óssea e do sangue do cordão umbilical).
Assim, para além de constituir atualmente uma realidade na prática clínica corrente no contexto das doenças hemato-oncológicas, a possibilidade de recurso às células estaminais adultas tem-se evidenciado como uma das áreas mais promissoras para a medicina do futuro, podendo vir a contribuir para o tratamento de doenças atualmente com poucas opções terapêuticas eficazes.