Sempre que surgem os picos de varicela (todos os anos), começam também as questões sobre o “isolamento” das crianças doentes. Pessoalmente, tenho as minhas dúvidas sobre o interesse de evitar o contágio entre crianças, devido ao maior risco se apanharem a doença numa fase mais avançada da vida. Para além disso, mesmo que tal seja feito, é sempre difícil uma prevenção eficaz, porque as pessoas com varicela começam a eliminar o vírus nas gotículas respiratórias cerca de 2 dias antes de iniciarem as manifestações da doença, pelo que quando surgem as manchas na pele, muito provavelmente já contagiaram outras pessoas.
Relativamente à vacinação, neste momento as recomendações da Sociedade Portuguesa de Pediatria seguem as orientações da Organização Mundial de Saúde, que dizem que as actuais vacinas contra a varicela só devem ser utilizadas na criança se se assegurar uma cobertura vacinal acima dos 85-90%, ou seja, se tivermos uma taxa de vacinação semelhante à do plano nacional de vacinação. Assim, a minha opinião é a de que não se deve vacinar por rotina as crianças, mas pode-se vacinar os adolescentes e adultos susceptíveis, pois isso não altera a chamada “imunidade de grupo”. Perante a ausência de uma história de varicela, pode-se fazer a determinação de anticorpos para este vírus nesses indivíduos e, em caso de serem negativos, proceder à sua vacinação.
Quanto ao tratamento, este serve essencialmente para alívio sintomático e compreende um anti-histamínico (para retirar a comichão) e paracetamol para a febre. Existe ainda a possibilidade de utilizar um antivírico (aciclovir), mas aí as opiniões já não são tão consensuais, até porque é eficaz apenas quando administrado nas primeiras 24-48h de doença. A Academia Americana de Pediatria não recomenda a sua administração por rotina, já que os seus efeitos são apenas ligeiros. No entanto, está recomendada a sua utilização nos seguintes casos: a) adolescentes; b) segundos casos na família, porque geralmente têm manifestações mais graves; c) crianças com doenças cardiopulmonares ou cutâneas crónicas; d) crianças a fazer tratamentos prolongados com cortisona (ou derivados), mesmo que sob a forma inalada; e) crianças a fazer tratamento crónico com ácido acetilsalicílico.
Os cuidados a ter com as crianças com varicela dependem muito do estado geral da criança. Se ela estiver bem e sem febre, penso que não precisa de ficar fechada em casa. Os principais cuidados, nesses casos, prendem-se com a tentativa de evitar o contágio de pessoas susceptíveis, nomeadamente grávidas e pessoas com algum tipo de imunodepressão (SIDA, doenças oncológicas, quimioterapia, …), pelo que não devem frequentar locais fechados onde possam espalhar o vírus. É bom relembrar sempre que as crianças são contagiosas até todas as lesões estarem em crosta.
As principais complicações podem estar associadas a sobre-infecção bacteriana da pele ou então a lesão directa pelo próprio vírus, com infecção do cérebro ou pneumonia. Algumas podem ser graves, mas não há grande forma de as prevenir. Alguns conselhos são o de manter as unhas da criança bem cortadas e não utilizar anti-inflamatórios, nomeadamente o ibuprofeno. De qualquer forma, estas situações são mais frequentes em crianças com défice imunitário, adolescentes e adultos jovens.