A obesidade é hoje em dia considerada uma doença crónica e, pela sua elevada prevalência, é encarada como uma verdadeira epidemia.
Não existe propriamente uma causa isolada para a obesidade, uma vez que se trata de uma situação multifactorial, ou seja, na qual intervêm diferentes factores. Podemos organizá-los nas seguintes categorias:
– Genéticos – Já estão identificados alguns genes que predispõem à obesidade, muitos deles relacionados com os mecanismos da fome e saciedade. No entanto, é extremamente rara a obesidade apenas de causa genética.
– Metabólicos – Os desequilíbrios hormonais podem predispor à obesidade através de uma desregulação no gasto energético, pelo que é importante sempre fazer uma adequada avaliação de cada caso.
– Ambientais – Estes são, provavelmente, os maiores responsáveis pelo aumento exponencial de casos de excesso de peso e obesidade nas nossas crianças. Temos que perceber que para regularmos o nosso peso devemos pensar numa balança, em que num dos lados está o que se consome e no outro o que se gasta. Assim, é fácil entender que se não houver cuidados alimentares e se consumir mais energia do que se deve, o risco de excesso de peso dispara. Por outro lado, se não houver um adequado gasto energético (um problema bem presente no nosso país, com os níveis de sedentarismo e inactividade bem elevados), o risco de aumento de peso é ainda maior. Por esse motivo, é fundamental que as nossas crianças comam bem e sejam activas, para poder equilibrar estes dois aspectos.
Depois de perceber estas causas, é fácil identificar inúmeros factores de risco para esta condição. No entanto, acho que é importante salientar alguns que possivelmente são menos conhecidos, mas que são igualmente bastante importantes:
– Aumento rápido do percentil de peso nos primeiros meses de vida – O cruzamento “ascendente” do percentil de peso nos primeiros meses de vida é um possível marcador de obesidade, pelo que é algo que se deve ter em atenção. Geralmente as famílias até ficam contentes quando isso acontece, mas é algo que deve ser avaliado e vigiado com prudência.
– Excesso do consumo de proteínas – Apesar de não ser um nutriente classicamente associado à obesidade, as proteínas são um importante regulador do metabolismo, ou seja, da forma como as nossas células aprendem a utilizar a energia. Por esse motivo, está actualmente bem estabelecido que o excesso de proteínas nos primeiros meses/anos de vida é um factor de risco para obesidade, pelo que é muito importante ter atenção aos excessos (as crianças portuguesas até aos 3 anos comem 4 vezes mais proteínas do que deviam)
– Ressalto adipocitário – Este nome estranho diz respeito a um fenómeno que acontece entre os 5 e os 7 anos (mais cedo ligeiramente nas meninas do que nos meninos) e que descreve o aumento no índice de massa corporal que ocorre nestas idades. De uma forma simples, podemos entender este período como uma espécie de “preparação” do organismo para a fase seguinte que vai ser a puberdade. Se uma criança tem este ressalto adipocitário precocemente ou com níveis muito elevados, a probabilidade de sofrer de obesidade na idade adulta é muito mais elevada.
– Comportamentos inadequados na adolescência – Na adolescência o corpo muda significativamente e, por esse motivo, esta acaba por ser uma altura também “crítica”. O apetite aumenta exponencialmente, pelo que é fundamental haver uma escolha adequada do que se come (quantidade e qualidade) e ter uma actividade física correspondente ao que se ingere, o que nem sempre acontece.
Em jeito de conclusão, é importante reforçar a necessidade de estar atento de forma precoce a todos estes factores de risco que listei acima. As crianças devem aprender a ter bons hábitos alimentares e a fazer uma actividade física regular, pois só assim manterão esses hábitos na idade adulta. E, claro, os pais devem sempre dar o exemplo (um bom exemplo!), pois não se podem esquecer de que é com eles que os filhos mais aprendem!