A Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) é considerada uma doença do neurodesenvolvimento, da qual já se conhece actualmente grande parte dos seus mecanismos. Trata-se de uma perturbação que condiciona um desequilíbrio a nível de alguns neurotransmissores (moléculas que permitem a comunicação entre as diferentes células do cérebro) e que vai ter como consequência alterações a nível do raciocínio/atenção e comportamento motor das crianças afectadas.
É uma doença que pode ter manifestações muito variáveis mas que, de um modo geral, se podem dividir em dois grandes grupos:
– desatenção
– hiperactividade/impulsividade
Assim, é possível haver crianças com predomínio de desatenção, crianças com predomínio de hiperactividade/impulsividade e crianças com manifestações dos dois grupos.
De um modo geral, os meninos são mais hiperactivos/impulsivos e as meninas mais desatentas, mas esses padrões não são “exclusivos” e podem surgir em ambos os sexos.
O diagnóstico de PHDA deve ser sempre feito por um médico, embora seja fundamental a informação dada pelos pais, professores, psicólogos e outros profissionais que lidem com a criança.
É possível ser “mexido” sem ser hiperactivo?
Claro que sim! É normal que as crianças pequenas sejam irrequietas e estejam sempre a mexer-se. Se não for assim é anormal e isso sim, deve ser motivo de uma avaliação…
No entanto, com o crescimento e desenvolvimento, as crianças aprendem a comportar-se de forma mais ou menos adequada em cada contexto, nomeadamente no contexto escolar. É precisamente por isso que é raro fazer um diagnóstico de PHDA em idade pré-escolar…
Por outro lado, temos também que realçar a ideia de que o comportamento das crianças depende muito das regras que se lhe colocam e que os meninos que estão habituados a muita permissividade e a fazer tudo o que querem não se vão saber comportar de forma adequada nos diferentes contextos em que se inserem.
Apesar disso, não podemos achar que todos os meninos “mexidos” o são apenas porque não têm regras. Isso não é verdade, porque a PHDA existe e é claramente perturbadora, (principalmente a variante do tipo hiperactivo/impulsivo). As verdadeiras crianças hiperactivas não se conseguem controlar e estão sempre a mexer porque não têm capacidade de parar e precisam de ajuda. Negar essa ajuda é incorrecto e até injusto!
Nem sempre é fácil distinguir uma verdadeira PHDA de um menino “mal comportado”, até porque está provado que cerca de 30% das crianças com perturbações do sono podem ter sintomas semelhantes a esta perturbação. No entanto, há alguns sintomas que em conjunto fazem pensar mais numa PHDA, principalmente quando estão presentes em diferentes contextos da vida da criança (casa, escola e lazer). Alguns exemplos são os seguintes: fala excessiva, dificuldade em estar sentado ou brincar quieto, dificuldade em esperar pela sua vez, vontade de responder às questões antes delas terminarem, comportamento perturbador, com interrupções frequentes dos outros e propensão para múltiplos acidentes.
Medicação – sim ou não?
A maior polémica em relação à Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção prende-se com o uso da medicação, nomeadamente do metilfenidato (RubifenÒ, RitalinaÒ e ConcertaÒ). Apesar de haver a ideia generalizada de que se trata de um calmante, na verdade é exactamente o oposto, pois é um medicamento estimulante. O seu efeito consegue-se activando as zonas cerebrais que não estão tão “funcionais” e isso vai melhorar a atenção e comportamento da maior parte das crianças. O seu principal efeito lateral é a diminuição do apetite, que pode ser significativa, mas pode também haver alguma interferência com o sono, principalmente nos casos em que o medicamento é administrado de tarde.
No entanto, como para qualquer medicamento, o seu uso deve ser reservado para as situações em que existe uma prescrição médica e apenas para os casos assentes num diagnóstico bem feito. Só assim se consegue aumentar a probabilidade de ser eficaz e garantir a sua segurança.