Decidi escrever este post porque vem aí o Natal e a correria aos presentes é grande, o que implica, logicamente, fazer escolhas.
Sei que é um tema controverso e devo dizer que, desta vez, não terei uma resposta puramente científica, mas sim uma opinião pessoal baseada nalguns artigos que li e também na discussão que já tive sobre o assunto com outros colegas, pediatras e não só.
Não há dúvida de que os tablets são extremamente atractivos para as crianças e, inclusivamente, têm uma série de aplicações disponíveis que são até bastante interessantes. No entanto, têm algumas desvantagens que vou também tentar explicar. Vou começar pelas qualidades mais importantes…
O primeiro aspecto é a visão. Há muitas vezes a ideia de que os tablets podem prejudicar a visão das crianças, mas os estudos não têm comprovado esse receio, pelo que não me parece ser um verdadeiro problema. Podem até ajudar na coordenação mão-olho, ou seja, a capacidade que as crianças têm de articular o que vêem com o que fazem.
O segundo ponto tem a ver com as aplicações e jogos. Hoje em dia estão disponíveis imensas aplicações, algumas das quais são até bastante criativas e pedagógicas para as crianças. Podem estimular a memória e a coordenação, bem como a lateralidade, o que também é importante para o desenvolvimento.
No entanto, nada é só positivo e parece-me que os tablets têm também alguns aspectos que não são tão benéficos.
O primeiro tem a ver com a inactividade. Um dos problemas da nossa sociedade é o sedentarismo e um dos principais factores que o favorecem é a tecnologia. Logicamente, se a criança está sentada a jogar não vai fazer actividade física e isso não é bom.
O segundo prende-se com a “ultrapassagem” de etapas. Um tablet é extremamente atractivo e é muito fácil as crianças gostarem. O problema, como é óbvio, é que torna os outros brinquedos menos “apetecíveis”. Isto faz com que as crianças deixem de brincar com o que realmente deviam, que são livrros, bicicletas, puzzles, blocos de construções, carrinhos, bonecas e tudo o que lhes possa estimular a criatividade e a capacidade de brincar ao “faz de conta”, algo profundamente importante para o seu desenvolvimento.
O terceiro diz respeito à menor estimulação motora, pois a motricidade fina de pegar nos brinquedos e objectos e encaixá-los uns nos outros ou empilhá-los é fundamental para todas as crianças.
Por fim, não nos podemos esquecer que jogar num tablet é uma opção muito pouco “social”, pois é uma actividade bastante solitária. É imprescindível reforçar a ideia de que a companhia ideal das crianças são outras crianças ou os adultos e não brinquedos ou outros utensílios, sejam eles de que tipo forem. Um pai/mãe e um filho conseguem sempre brincar juntos mesmo sem terem nada disponível no momento, basta ter vontade e um pouco de imaginação!
Estes são apenas alguns dos muitos pontos possíveis de abordar numa discussão deste tipo…
Assim, não sou fundamentalista a ponto de dizer que as crianças não devem mexer em tablets, mas como para tudo, é preciso bom senso. Podem jogar um pouco, mas não me parece que haja propriamente necessidade de terem um tablet mesmo para elas. Não se esqueça que enquanto o aparelho for dos pais, é mais fácil colocar regras!
Posto isto, não lhe vou conseguir dar uma resposta exacta à pergunta que coloquei acima, mas seguramente os primeiros anos de vida não são a idade ideal. O melhor será mesmo ir adiando a decisão de o comprar… Apesar do seu filho poder “resmungar” um pouco, acredite que será o mais beneficiado dessa decisão e rapidamente descobre muitas outras formas de se divertir!
Nota: O princípio é o mesmo para as consolas, sejam fixas ou portáteis. No entanto, queria apenas ressalvar um ponto, que são os jogos que necessitam de movimento e que neste momento existem em todas elas. Esses sim, parecem-me mais equilibrados, não só pela actividade, como também pela interacção familiar que podem promover…