Vamos falar sobre um assunto “difícil”?
Há temas que já sei que vão causar alguma fricção, principalmente por quem não quer verdadeiramente pensar sobre eles. Mas é algo tão recorrente nas minhas consultas que resolvi escrever hoje sobre…
Camas Montessorianas. Sim ou Não?
A resposta obrigatórias seria um indubitável SIM.
A pedagogia/filosofia montessori está tão na moda que é quase um sacrilégio dizer algo diferente. Mas bom… eu vou dizer! A pedagogia montessori é fantástica. É muito mais do que um simples método de educação. No fundo acaba por ser uma forma diferente de pensar a criança e o seu desenvolvimento, pois promove a autonomia, a auto-regulação, a liberdade de escolha e a possibilidade dos pequenos se movimentarem livremente dentro do seu ambiente de aprendizagem e do seu espaço. Tem bastante que se lhe diga, embora na maioria das vezes seja apenas vista como uma forma de decorar um quarto infantil.
Relativamente aos quartos dos miúdos, esta filosofia promove – como referi – a autonomia. Livre acesso à roupa, aos brinquedos, aos livros e sim… livre acesso (entrada e saída) à cama. E a cama acaba quase sempre por ser o ícone de quem escolhe (por vezes sem saber o que está a escolher) decorar um quarto sob a premissa de um quarto montessori.
Ora, para promover a livre entrada e saída da cama não precisamos de ter uma cama como as chamadas montessori. Algumas são apenas colchões no chão, outras são maravilhosas, em formato de casinha, luzes e uma decoração de encantar. Têm, quase todas, um denominador comum: são no chão.
E era sobre isto que vos queria falar. No meu ponto de vista, ter a cama no chão parece-me uma tolice. Primeiro; fazer a cama diariamente é difícil à brava: uma pessoa tem de estar de joelhos no chão a esticar lençóis ou toda curvada, habilitando-se a umas dorzinhas simpáticas sempre que fizer a cama (são só 365 dias por ano). Se o objectivo for promover a autonomia dos miúdos e quisermos que eles aprendam a fazer a sua própria cama (normalmente esta parte já não entra na chamada autonomia e sim nos trabalhos forçados) este tipo de camas também não é amiga dos mais pequenos pois, mesmo sendo mais pequeninos do que nós, também eles têm de se esforçar bastante para pôr a cama apresentável.
Segundo; por mais limpinhos que sejam é no chão que se encontram as maiores impurezas da casa e se acumula o pó. A não ser que usem o Rainbow todos os dias é bem provável que os vossos filhos passem a noite a respirar mais perto do pó (e de outras coisas) do que se dormirem numa cama mais alta.
Então, como resolver a situação? Simples: comprem uma cama aberta, de onde os vossos filhos possam sair sem perigo mas que tenha alguma altura do chão. Ou seja, comprem uma cama baixinha “normal”.
Ainda relativamente à autonomia… vejo muitas mães a defender a utilização de uma cama montessori como algo promotor de autonomia da criança, mas que depois não lhe permitem a autonomia no adormecer. Sim, porque mais importante do que poderem sair e entrar da cama é termos filhos que conseguem ser autónomos no adormecer. Que o fazem de forma tranquila e que não sentem que o sono é algo terrível. Essa é, no meu ponto de vista, a verdadeiramente autonomia. Ter bebés de 12 ou 18 meses a entrar e sair de uma cama não me parece que ofereça mais autonomia e liberdade de escolha do que um bebé que sabe adormecer, descansa de forma adequada e dorme numa cama convencional.
A filosofia/pedagogia montessori tem muito mais de válido do que a cama bonita, mas que não dá jeito nenhum. Os miúdos vivem na casa inteira. Precisam de conseguir aceder à sanita, de conseguir chegar à escova de dentes, de conseguir chegar aos utensílios com que comem…Eles são capazes de fazer muita coisa sozinhos e isso sim, dá-lhes confiança, independência e liberdade. E sim, também são capazes de adormecer sozinhos o que lhe traz segurança e saúde.
Vamos promover tudo isto, mas e que tal faze-lo de forma pensada e ponderada?