A COVID-19 entrou nas nossas vidas há alguns meses e, desde então, tem dominado todas as conversas e a nossa atenção. E um dos aspectos que mais tem sido discutido recentemente prende-se com o início do ano lectivo e a (re)abertura das escolas. Existem normas da DGS com recomendações, mas existe também autonomia a nível escolar para se adaptar cada realidade às suas verdadeiras necessidades. E, no meio disto tudo, existem ainda todas a inúmeras opiniões individuais que vão surgindo por todo o lado e que, por vezes, criam mais ruído do que ajuda.
Por esse motivo, gostaria de deixar aqui alguns pontos de reflexão que me parecem importantes e que dizem respeito às crianças e adolescentes saudáveis, sem doenças crónicas (esse grupo tem recomendações específicas, que saem fora do âmbito deste artigo é que têm que ser muito bem avaliadas caso a caso):
- Máscaras
Muito se tem debatido sobre a importância do uso de máscaras por parte das crianças. Sobre este assunto, acho que há alguns aspectos que me parecem muito relevantes. O primeiro tem a ver com o facto de as crianças serem naturalmente “poupadas” a esta infecção, pois têm menos sintomas e doença mais ligeira (ver mais sobre este assunto aqui – “QUAL O RISCO DO CORONAVIRUS EM CRIANÇAS”). Assim, na esmagadora maioria dos casos são benignos e não comportam risco significativo, o que deve tranquilizar os pais. No entanto, podem transmitir o vírus e ser parte activa na cadeia de transmissão, o que faz com que seja importante tomar algumas medidas nesse sentido. Por esse motivo, sempre que possível, as crianças a partir da idade escolar (e, eventualmente, até antes) podem e devem usar máscara na sala de aula, não tanto para se proteger a si, mas essencialmente para proteger os seus familiares e conviventes de risco, incluindo os profissionais de educação. Claro que isso não deve interferir no seu bem-estar , conforto e atenção, pelo que se a criança não tolerar a máscara não a deve usar, mas se se explicar bem o motivo e a importância dessa utilização, muitas crianças vão ser bem mais cumpridoras do que alguns adultos! O principal cuidado prende-se com a manipulação da máscara e o seu bom uso, pelo que essas medidas devem claramente ser explicadas e repetidas.
- Intervalos
Na minha opinião, não faz sentido nenhum reduzir os intervalos escolares! As crianças precisam desses momentos para estarem umas com as outras, para brincar (aspecto FUNDAMENTAL no dia-a-dia de todas as crianças) e para se poderem “preparar” do ponto de vista emocional para as aulas seguintes. Os intervalos escolares são tão importantes como os momentos de aulas, até porque são eles que mantêm as crianças predispostas para aprender. Não me parece minimamente sensato retirar ou encurtar esses momentos, até porque há outras medidas que fazem bem mais sentido, tais como tentar desfasar horários para que não haja grandes aglomerados de alunos ao mesmo tempo ou criar zonas na escola para os diferentes anos pára-quedas as crianças possam conviver em grupos mais pequenos, mas não deixem de o fazer. No entanto, as crianças têm o direito de brincar e isso tem que ser respeitado! Tem-se debatido muito o uso das máscaras, tal como referi acima, mas deste assunto fala-se pouco, infelizmente. E, na minha opinião, é muito mais lógico que as crianças utilizem máscara (e a retirem quando estão a fazer a correr ou jogar à bola, por exemplo) e possam ter os intervalos normais (ou, até, um pouco maiores) e estar com os seus amigos do que fazer precisamente o contrário!
- Refeições
Todos nós passamos a vida a reforçar a ideia de que as refeições devem ser momentos de partilha e isso acaba por ser um problema neste contexto. É verdade que não deve haver a proximidade física que havia antes e que tem que haver uma supervisão maior para não haver partilha de comida ou talheres (em crianças mais pequenas), mas a verdade é que o momento da refeição é também um momento de interacção uns com os outros. Mais uma vez, deve-se tentar criar horários específicos para grupos mais pequenos e garantir algum distanciamento nas mesas, mas, sempre que possível, deixar que as crianças socializem umas com as outras, desde que se cumpram esses requisitos. E, claro, não esquecer a importância fundamental da higienização das mãos e das superfícies…
- Partilhas de objectos
Este é um aspecto que merece uma consideração especial. Isto, porque neste contexto qualquer partilha entre crianças deve ser evitada e isso tem que lhes ser explicado. Não se devem levar brinquedos de casa para a escola e o material escolar deve ser reservado para uso individual apenas. No entanto, se for necessário emprestar ou partilhar algum objecto com outra criança, tal deve ser supervisionado pelo professor, que deve proceder à sua correcta desinfecção e garantir a segurança possível.
Por fim, importa reforçar novamente a ideia de que esta infecção é, na maior parte dos casos, extremamente benigna para crianças, ou seja, a probabilidade de surgir doença grave ou alguma complicação é muito baixa. No entanto, as crianças e adolescentes são possíveis vectores de contágio, o que os torna uma peça importante nas cadeias de transmissão. Deste modo, com uma maior “normalidade” na vida escolar, devemos reforçar a atenção dada aos verdadeiros grupos de risco, que são as pessoas com mais idade e/ou com doenças crónicas. Devemos continuar a protegê-los e, eventualmente, reforçar algumas dessas medidas preventivas em todas as faixas etárias, para evitar o seu contágio, pois para eles a COVID-19 pode ter uma gravidade bastante elevada.