Já falei aqui de algumas hérnias da parede abdominal que aparecem na crianças (as hérnias umbilicais e inguinais). Existe um terceiro tipo de hérnias que aparecem na parede abdominal, ao longo da chamada linha alba e acima do umbigo, entre este e o apêndice xifóide (o osso que limita inferiormente o esterno). Esta linha alba é composta apenas por aponevrose (isto é, sem músculo interposto). Quando, entre as suas fibras, existe um buraquinho maior, este permite a passagem de gordura de dentro do abdómen.
Apesar de 30% destas hérnias aparecerem ao nascimento. A maioria só é notadas mais tarde, quando a criança tem uma parede abdominal mais forte, a apartir dos 2-3 anos. Aliás, até esta idade, os músculos rectos abdominais estão muito afastados e linha branca é laxa (‘mole’). Chamamos a isto uma diastase dos recots abdominais que nesta idade é fisiológica (isto é, normal para a idade). Só quando os rectos abdominais estão mais juntos e a barriga da criança mas plana é que as hérnias epigástricas se notam melhor.
Na maior parte das vezes, o buraquinho da hérnia só deixa passar gordura (pré-peritoneal), não havendo o risco de ‘encarceramento’ do intestino. Ainda assim, a gordura ‘presa’ pode doer, principalmente com o esforço abdominal. Algumas hérnias epigástricas só aparecem na idade adulta, o que faz suspeitar que esta não seja uma doença congénita, mas sim adquirida (pelo menos nalguns casos).
Independentemente da causa, estas hérnias só podem ser corrigidas cirurgicamente. Quando elas são muito próximas do umbigo (as chamadas hérnias supra-umbilicais), a abordagem pode ser feita pelo umbigo (a nossa cicatriz natural) e a cicatriz torna-se imperceptível. Mas se a hérnia é mais distante, a mais de 1-2 cm do umbigo, a incisão da pele teria de ser feita em cima da hérnia. Por mais pequena que a incisão ficava sempre com uma cicatriz visível (caso à direita). Eu tenho advogado o uso de laparoscopia para estes casos.
Em Março de 2015, publicámos na revista da Associação Americana de Hérnias uma técninca nova para «Reparação laparoscópica da hérnia epigástrica da crianças sem cicatriz». A imagem à direita é de uma rapariga que fez parte desse estudo. Um mês depois da cirurgia, não tem cicatriz visível.