Este é um tema sobre o qual me tenho debruçado bastante nos últimos temos, porque
“pulula” feliz e contente na nossa sociedade e se espalha de forma progressiva, sem parecer
atingir nenhum fim. Mas, ao contrário do que possa parecer, é extremamente sério e tem
muitas implicações na forma como encaramos a infância. E é aí que eu quero mesmo chegar…
Não tenho dúvidas nenhumas de que, hoje em dia, os pais (digo assim apenas porque a língua
portuguesa generaliza desta forma, mas, como é lógico, quero dizer pais e mães) são cada vez
melhores pais. Possuem mais informação, o que, teoricamente, lhes dá uma capacidade de
decisão mais acertada. E, embora informação e conhecimento não sejam sempre sinónimos,
isso é uma mais-valia clara.
Fruto dessa maior disseminação de informação, noto também que são cada vez mais
preocupados, não apenas com as decisões sobre o presente dos filhos, mas, acima de tudo,
com a possibilidade de “interferir” com o seu futuro, da melhor maneira possível. E é aqui, na
minha opinião, que se torna tudo um pouco perigoso. Passo a explicar porquê:
- Não há nenhuma decisão que tenha implicações inevitáveis no futuro do seu filho
Como é lógico, o que fazemos hoje pode ter alguma influência amanhã, mas é
rarissimo que isso dependa apenas de uma escolha isolada. Na maior parte da vezes,
são caminhos múltiplos que se vão cruzando e que, em conjunto com algum acaso, vão
definir o que vai acontecer. - Há sempre um dia de amanhã
Uma das maiores magias de ser pai ou mãe é poder fazer a diferença, pela positiva, na
vida dos nossos filhos. E, se hoje não decidir tão bem, há sempre um dia de amanhã,
para poder decidir melhor. A Felicidade não se constrói com momentos isolados, mas
sim com o trajeto que une todos esses momentos. - Ninguém acerta sempre
Claro que não! Nem os filhos, nem os pais! Sempre foi assim é vai continuar a ser e é
nessa imperfeição que as pessoas aprendem a gostar umas das outras, pais e filhos,
num amor que é irrepetível e completamente incondicional… - Nem tudo é programável
Tal como fiz questão de dizer acima, o acaso também entra nesta equação. Felizmente
há sempre lugar a alguma incerteza e surpresa, porque permite estimular a
criatividade e resiliência de todos.
Com tudo isto, gostaria de deixar um apelo, que é o seguinte: “não prive o seu filho de ser
criança, só pelo medo de o ver errar”! Mais importante do que impedir que ele falhe, com
múltiplas correções, reparos e impedimentos, é estar lá para quando ele mais precisar e não
decidir bem.. Até porque, para se acertar, é preciso errar muitas vezes. E é nessas alturas que
nós devemos corresponder ao desejo íntimo de todas as crianças, que vem expresso no seu
olhar e que diz “Ama-me quando mais preciso”. E é tão fácil fazer isso…
Como vai perceber, o futuro do seu filho vai chegar bem mais depressa do que imagina (e, se
calhar, do que desejava), pelo que não adianta ter pressas. Trate bem do vosso presente, que
é bem mais importante do que fazer projeções, porque, seguramente, é através de um bom
presente que chega um futuro feliz. Relaxe e usufrua, porque não é preciso ter pressa
nenhuma…