Em 2003 surgiu pela primeira vez o tema da criopreservação de células estaminais em Portugal. A Crioestaminal introduziu este conceito inovador ao disponibilizar o serviço de criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical, possibilitando aos pais guardar as células estaminais do sangue do cordão umbilical dos seus recém-nascidos. Desde então, milhares de pais optaram pela criopreservação, numa aposta no potencial terapêutico destas células e na evolução da ciência e da medicina. A partir de 2011, passou também a ser possível guardar as células estaminais do tecido do cordão umbilical, que é enriquecido em células estaminais diferentes das do sangue do cordão umbilical. Ao longo dos últimos 20 anos temos vindo a assistir à evolução quer no conhecimento das potencialidades das células estaminais do cordão umbilical quer na sua aplicação terapêutica.
Em 1988, uma equipa liderada pela Dra. Eliane Gluckman, realizou, no Hospital Saint Louis, em Paris, o primeiro transplante de sangue do cordão umbilical. A opção por esta fonte de células estaminais foi um enorme sucesso, pois permitiu salvar a vida a um menino que sofria de anemia de Fanconi, uma doença que, sem o transplante, teria sido fatal. Nos primeiros 15 anos, entre 1988 e 2003, foram realizados cerca de 2.500 transplantes, tendo nos 10 anos seguintes este número aumentado cerca de 10 vezes. Verificou-se, assim, um aumento exponencial da utilização de sangue do cordão umbilical, contando-se atualmente mais de 60.000 transplantes, em crianças e em adultos, para o tratamento de mais de 90 doenças, que incluem doenças hemato-oncológicas, como leucemias e linfomas, doenças metabólicas, imunodeficiências e hemoglobinopatias.
Em Portugal, o primeiro transplante de células estaminais do sangue do cordão umbilical foi realizado em 1994, no IPO de Lisboa. Uma menina de três anos, que sofria de leucemia mieloide crónica juvenil, entrou em remissão após o transplante com o sangue do cordão umbilical do seu irmão. Segundo dados do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, entre 2003 e 2019, foram realizados, em Portugal, mais de 75 transplantes de sangue do cordão umbilical, nos vários centros de transplantação nacionais. Nestes transplantes foram utilizadas amostras guardadas em bancos públicos, mas também num banco familiar – a Crioestaminal. As amostras guardadas pela Crioestaminal possibilitaram a cura de uma imunodeficiência combinada severa (IPO Porto, em 2007) e de um caso de anemia aplástica (IPO Lisboa, em 2019). Outras crianças, com células estaminais criopreservadas em bancos familiares em Portugal puderam beneficiar de uma terapia experimental para paralisia cerebral e autismo.
A primeira utilização de sangue do cordão umbilical no âmbito da medicina regenerativa aconteceu em 2005, nos EUA, para o tratamento de uma criança com lesões neurológicas. Desde então, temos assistido ao uso crescente destas células no tratamento experimental de problemas do foro neurológico, nomeadamente paralisia cerebral, com relatos de melhoria dos sintomas. Até ao final de 2021 estavam registados 276 ensaios clínicos com recurso a células do sangue do cordão umbilical para aplicações na área da medicina regenerativa. Estas células têm vindo a alcançar resultados promissores em doenças como paralisia cerebral, encefalopatia hipóxicoisquémica neonatal, perda auditiva adquirida, entre outras. Para além do enorme potencial terapêutico das células estaminais do sangue do cordão umbilical, o armazenamento de células estaminais do tecido do cordão umbilical permite aumentar as possibilidades de utilização de células estaminais em áreas terapêuticas diferentes e até complementares. Tendo em conta o considerável potencial terapêutico das células estaminais mesenquimais, nas quais o tecido do cordão umbilical é enriquecido, estão em curso centenas de ensaios clínicos que visam investigar a sua utilização terapêutica em várias doenças graves. Estão registados mais de 250 ensaios clínicos com células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, tendo sido já publicados resultados da sua utilização experimental em diversas doenças (diabetes tipo 1, esclerose múltipla, lúpus eritematoso sistémico, artrite reumatoide, entre outras), com resultados positivos e perspetivas favoráveis da sua aplicação clínica.
Considerando as potencialidades terapêuticas das células estaminais do cordão umbilical, o número de doenças passíveis de serem tratadas por recurso a estas células poderá aumentar, pelo que é importante que quer o sangue quer o tecido do cordão umbilical sejam colhidos no momento do parto para que seja possível guardar as suas células estaminais.