O primeiro transplante de sangue do cordão umbilical foi realizado, em Paris, em 1988. A opção por esta fonte de células estaminais foi um enorme sucesso, permitindo salvar a vida de uma criança com anemia de Fanconi, uma doença que, sem o transplante, teria sido fatal. Atualmente contam-se já mais de 60.000 transplantes de sangue do cordão umbilical, em crianças e em adultos, para o tratamento de mais de 90 doenças, que incluem doenças hemato-oncológicas, como leucemias e linfomas, doenças metabólicas, imunodeficiências e hemoglobinopatias. Em mais de 35 anos de utilização das células do cordão umbilical, temos vindo a assistir a avanços quer no conhecimento das potencialidades terapêuticas destas células quer na abrangência da sua aplicação clínica. No início dos anos 2000, ocorre, nos EUA, a primeira utilização de sangue do cordão umbilical no âmbito da medicina regenerativa para o tratamento de uma criança com lesões neurológicas. Desde então, tem sido notório o uso crescente destas células no tratamento experimental de problemas do foro neurológico, nomeadamente paralisia cerebral, com evidências de melhoria dos sintomas. Esta fonte de células estaminais continua a ser estudada e testada em diferentes contextos, estando registados mais de 200 ensaios clínicos com recurso a células do sangue do cordão umbilical. A investigação que tem sido realizada com estas células tem mostrado resultados promissores em doenças como paralisia cerebral, encefalopatia hipóxico‑isquémica neonatal, perda auditiva adquirida, entre outras.
Em Portugal, o tema da criopreservação de células estaminais surge pela primeira vez em 2003, através da Crioestaminal, que introduziu este conceito ao disponibilizar o serviço de criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical. Com esta possibilidade, os pais, que assim o desejem, passam a poder guardar as células estaminais do sangue do cordão umbilical dos seus recém-nascidos. A partir de 2011, a Crioestaminal passou também a possibilitar a criopreservação das células estaminais do tecido do cordão umbilical, diferentes das do sangue e com potenciais aplicações clínicas em contextos distintos e até complementares. Numa aposta no potencial terapêutico destas células e na evolução da ciência e da medicina, milhares de pais têm optado pela criopreservação das células estaminais dos seus filhos. As amostras de sangue do cordão umbilical guardadas pela Crioestaminal possibilitaram já a cura de doenças como imunodeficiência combinada severa, leucemia mieloide aguda e anemia aplástica, tendo, para além disso, contribuído para o tratamento de crianças com paralisia cerebral e autismo. Para além das potencialidades das células estaminais do sangue do cordão umbilical, o armazenamento das células estaminais do tecido do cordão umbilical permite aumentar as possibilidades de utilização de células estaminais em áreas terapêuticas diferentes. Considerando as enormes capacidades terapêuticas das células estaminais mesenquimais, nas quais o tecido do cordão umbilical é enriquecido, estão em curso centenas de ensaios clínicos que visam investigar a sua utilização terapêutica em várias doenças graves, nomeadamente do foro autoimune. Estão atualmente registados mais de 350 ensaios clínicos com células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, tendo sido já publicados resultados da sua utilização experimental em diversas doenças (diabetes tipo 1, esclerose múltipla, artrite reumatoide, psoríase, entre outras), com resultados positivos e perspetivas favoráveis da sua aplicação clínica.
Tendo em conta as potencialidades terapêuticas das células estaminais do cordão umbilical, é expectável que o número de doenças passíveis de poderem ser tratadas por recurso a estas células aumente, pelo que é importante que quer o sangue quer o tecido do cordão umbilical sejam colhidos no momento do parto para que seja possível guardar as suas células estaminais e mais tarde as poder utilizar em tratamentos quer autólogos (células do próprio) quer alogénicos (células de um dador).
Referências
- Gluckman E, et al., N Engl J Med. 1989 Oct 26;321(17):1174-8.
- Sanchez-Petitto G, et al., Stem Cells Transl Med. 2023, Feb; 12(2): 55–71.
- https://clinicaltrials.gov/, consultado a 29 de abril de 2025.
- https://www.cb-association.org/assets/docs/Fact%20Sheet_February%202024.pdf, consultado a 16 de abril de 2025.
- Finch-Edmondson M, et al., Pediatrics. 2025; 155(5):e2024068999.