O sangue do cordão umbilical estabeleceu-se, nos últimos 30 anos, como uma alternativa à medula óssea, tendo sido já utilizado em mais de 60.000 transplantes hematopoiéticos. Para além das aplicações tradicionais, em contexto hemato-oncológico, o sangue do cordão umbilical tem emergido como uma fonte segura de células estaminais para o tratamento de doenças do foro neurológico, estando a decorrer vários estudos experimentais em paralisia cerebral, encefalopatia hipóxicoisquémica e perturbações do espectro do autismo, entre outras.
Entre os estudos realizados no âmbito do tratamento de paralisia cerebral com sangue do cordão umbilical, destaca-se o trabalho desenvolvido pela Dra. Joanne Kurtzberg, prestigiada médica hematooncologista e pioneira em transplantação com sangue do cordão umbilical. A Dra. Joanne Kurtzberg e colaboradores conduziram, na Universidade de Duke, nos EUA, um ensaio clínico em que crianças com paralisia cerebral foram tratadas com o seu próprio sangue do cordão umbilical (tratamento autólogo), tendo registado melhorias na sua função motora. O aumento da conectividade cerebral observado após a administração de sangue do cordão umbilical parece explicar as melhorias observadas.
No seguimento dos resultados positivos obtidos neste e noutros ensaios clínicos, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou, em 2017, a realização de um ensaio clínico (NCT03327467) em que autoriza o centro médico da Universidade de Duke a tratar crianças com várias doenças do foro neurológico, como paralisia cerebral, com sangue do cordão umbilical do próprio ou de um irmão compatível.
Até ao momento, a Crioestaminal libertou oito amostras de sangue do cordão umbilical para o tratamento de crianças com paralisia cerebral. Sete destas crianças foram infundidas na Universidade de Duke (EUA) e uma foi infundida no Hospital San Rafael, em Madrid (Espanha). Estas oito infusões autólogas foram efetuadas em contexto experimental com resultados favoráveis.
De modo a poder proporcionar a um maior número de crianças o acesso a este tipo de tratamento inovador e como nem todas as crianças a quem é diagnosticada paralisia cerebral têm o seu sangue do cordão umbilical guardado, os investigadores da Universidade de Duke conduziram um ensaio clínico para avaliar a segurança da administração de sangue do cordão umbilical de um irmão a crianças com paralisia cerebral. O tratamento consistiu na administração de sangue do cordão umbilical de um irmão, total ou parcialmente compatível, por via intravenosa. Não se verificaram efeitos adversos decorrentes do tratamento experimental, durante os dois anos de seguimento dos participantes, tendo este tratamento sido considerado seguro. Para além disso, os testes realizados demonstraram que, seis meses após o tratamento com sangue do cordão umbilical, todas as crianças demonstraram melhorias na função motora, comparativamente ao seu nível inicial.
Estes estudos sugerem que o uso de sangue do cordão umbilical, quer do próprio quer de um irmão, pode melhorar a função motora de crianças com paralisia cerebral, com potencial impacto positivo na sua qualidade de vida e na dos seus cuidadores.
Para além da utilização de sangue do cordão umbilical, tem também sido estudada a aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical para o tratamento de crianças com paralisia cerebral, com resultados promissores. Ensaios clínicos recentes têm mostrado que a terapia com células estaminais do tecido do cordão umbilical é segura e capaz de promover melhorias (na capacidade motora e no tónus muscular e, consequentemente, na sua qualidade de vida) que vão para além das conseguidas unicamente através de programas de reabilitação.
No seu conjunto, os resultados publicados na área da terapia celular para paralisia cerebral com recurso a células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical mostram resultados positivos, podendo vir a constituir alternativas terapêuticas com potencial para desempenhar um papel preponderante no tratamento desta condição.