O sangue do cordão umbilical é uma fonte de células estaminais usada para transplante hematopoiético, um procedimento realizado quando é necessário substituir o sistema hematopoiético (a “fábrica do sangue”) de um doente. Desde 1988, mais de 45.000 transplantes de sangue do cordão umbilical foram realizados em adultos e crianças, para o tratamento de mais de 90 doenças graves, que incluem doenças hemato-oncológicas (como leucemias e linfomas), alguns tipos de anemias, talassemias, imunodeficiências, doenças metabólicas, entre outras.
Para além da colheita simples e indolor, o sangue do cordão umbilical, que constitui uma alternativa à medula óssea nos transplantes hematopoiéticos, apresenta outras vantagens: a disponibilidade imediata para transplante, a maior tolerância relativamente aos fatores de compatibilidade entre dador e doente, e a menor probabilidade de desenvolvimento de doença do enxerto contra o hospedeiro (uma complicação grave que pode ocorrer após transplante hematopoiético, e que resulta da reação das células do dador contra o doente).
Descobertas em 1974 por um cientista dinamarquês, as células do sangue do cordão umbilical foram, pela primeira vez, usadas para transplante em 1988, numa criança norte-americana com Anemia de Fanconi, uma doença grave do sangue. O procedimento pioneiro foi realizado em Paris e resultou da colaboração entre médicos franceses e norte-americanos. Para o transplante, foram usadas as células estaminais colhidas após o parto da sua irmã mais nova, com quem era compatível. As células colhidas foram criopreservadas nos EUA, tendo posteriormente sido transportadas para Paris, onde o transplante foi realizado. O sucesso deste primeiro transplante conduziu ao estabelecimento dos bancos de sangue do cordão umbilical, que permitiram o seu armazenamento. Desde essa altura, as células estaminais do sangue do cordão umbilical têm sido usadas para transplante, como alternativa às da medula óssea, o que permitiu alargar o leque de doentes que pode ter acesso a esta opção de tratamento.
O maior desafio da transplantação de sangue do cordão umbilical prende-se com a quantidade de células de algumas unidades para tratar doentes com maior peso corporal. Nesse sentido, e para resolver esta limitação, várias abordagens têm sido testadas com o objetivo de aumentar o número de células transplantadas, de modo a facilitar a recuperação hematológica e imunológica dos doentes. A expansão celular (processo de multiplicação das células em laboratório) está cada vez mais próxima de se tornar uma realidade na prática clínica, com várias metodologias a apresentarem resultados positivos e uma delas com ensaios clínicos de fase 3 já concluídos.
Nos últimos anos, um dos avanços mais importantes na área da medicina regenerativa com sangue do cordão umbilical foi a descoberta de que a administração de sangue do cordão umbilical a crianças com doenças do foro neurológico, como paralisia cerebral e autismo, é segura e está associada a uma atenuação dos sintomas. Continuam a decorrer estudos para avaliar a eficácia do tratamento com sangue do cordão umbilical em doenças neurológicas, diabetes tipo 1, perda auditiva, lesões da espinal medula, entre outras.
Para além do reconhecido valor do sangue do cordão umbilical no tratamento de doenças do foro hemato-oncológico, a investigação com esta fonte de células estaminais tem conduzido a resultados muito promissores fora deste contexto, o que faz do sangue do cordão umbilical uma fonte de células estaminais com enorme potencial terapêutico, podendo vir a constituir uma mais-valia para o tratamento de doenças que atualmente não dispõem de uma opção terapêutica eficaz.