Este é um tema “quente” e pouco consensual, até porque não existem regras universais nem verdades absolutas. No entanto, há alguns princípios que me parecem importantes de discutir relativamente a este assunto:
- Mentir é sempre errado
Esta é uma afirmação inquestionável… A verdade pode não ser o que nós desejamos, mas é sempre o espelho da realidade. E, por esse motivo, é preciso que nós contactemos com ela. Por muito que nos custe ou nos magoe, é impossível fugir à verdade!
- Omitir não é mentir
Por vezes os pais decidem não contar a verdade toda aos filhos e, realmente, existe uma diferença (aparentemente) grande entre omitir e mentir. E isso tem que ser esclarecido… Claro que não contar a verdade toda também não significa dizer uma mentira, mas, no entanto, não é fácil definir se uma meia-verdade é mais verdade ou mais mentira, embora seja inegável que não é uma verdade absoluta! A única vantagem nesta opção é que, por vezes, pode não ser necessário que a criança confronte a realidade de uma forma total, mas sim aos poucos, para se ir preparando. E aí pode ser vantajoso omitir alguns factos, pelo menos de início.
- As crianças não são adultos em miniatura
Os problemas dos adultos são para os adultos e não para as crianças. Isto não implica mentir-lhes, mas é fundamental ter em atenção de que as situações devem ser apresentadas de uma forma que permita que elas as entendam e assimilem. Estar a transmitir problemas e pormenores de assuntos sobre os quais elas não perguntaram nada é, provavelmente, uma má escolha na maior parte das vezes.
- As crianças não devem ser “infantilizadas”
O desenvolvimento infantil é progressivo, mas, aos olhos dos pais, é muitas vezes difícil perceber esse crescimento. Por esse motivo, é fácil olhar para um filho e vê-lo sempre “pequenino”, mas a verdade é que as crianças crescem e, com isso, o seu entendimento sobre o Mundo também vai mudando. E todos os pais têm que se adaptar a isso…
- Mentir implica ensinar a mentir também
Mesmo que não seja esse o objetivo, o que nós ensinamos a uma criança quando lhe mentimos é que esse é sempre um caminho possível. Para além disso, pode também danificar a confiança que as crianças têm nos adultos, pelo que é fundamental perceber que são os nossos exemplos que vão moldar os comportamentos dos nossos filhos. E, por isso, devemos sempre escolher aquilo que gostávamos que eles fossem!
- Proteger não significa fazer de conta que os problemas não existem.
Pois, aqui está outra questão importante. Na maior parte das vezes, a mentira só adia o problema, ou seja, é o que se chama “empurrar com a barriga”. Claro que é importante proteger as crianças e isso deve ser sempre uma preocupação dos pais. Mas acredito que a melhor forma de o fazer é ensinando-as a lidar com as adversidades, estimulando a sua capacidade de superar problemas e, como é lógico, dando-lhes toda a retaguarda e segurança de que necessitam quando enfrentam alguma situação menos positiva.
- Na medicina e no amor, nem nunca nem sempre
Mais uma afirmação inegável… Claro que, como regra, é fácil perceber que há sempre uma opção melhor do que mentir. No entanto, acho que são poucos os pais que nunca contaram uma “mentirinha” aos filhos, nem que seja com a melhor das intenções. De qualquer forma, essa não é a melhor escolha, pelo que deve ser sempre evitada. E essa é mesmo a mensagem mais importante que eu gostaria de passar com este texto.
Estes são apenas alguns pontos de reflexão, pois haveria ainda muito mais a dizer. Mas, mais importante do que escrever muito, é colocar as pessoas a pensar num tema que, embora parece um pouco inocente, não o é! De todo…
Fiquem bem e… até à próxima!