O verão é por tradição a altura do ano das férias e do tão desejado e merecido descanso! Uma miragem que vai surgindo num horizonte longínquo e que se desvanece num ápice tão rápido que muitas vezes as pessoas nem saboreiam o descanso, como deveriam! As férias escolares de verão são assumidas pelos miúdos como uma pausa ao ritmo acelerado de aquisição de informação e conhecimentos do ano escolar. São sempre consideradas gigantes pelos pais mas curtinhas pelos miúdos. Nesta diferença de perspetivas reside igualmente a diferença de espectativas e de propostas de ocupação do tempo. Uns pretendem aproveitar o tempo para brincar, estar com os amigos, ver televisão ou jogar consola, fazer o que em aulas não se consegue; outros desejam que o “trabalho escolar” não se interrompa e que se vá dando uma vista de olhos nas matérias e fazendo alguns exercícios para relembrar a matéria.
Esta inquietação relativamente ao que se faz, quando se faz e porque se faz, preocupa os pais e condiciona as crianças que não têm tempo para viver a infância e brincar. Sofrem diversas pressões para as quais ainda não estão preparadas, podem desencadear stress mas sobretudo enraizam um olhar para a escola como enfadonha e absorvente que ocupa o tempo livre todo. Se estão em aulas têm que fazer os trabalhos e estudar matéria, se estão em férias têm de fazer trabalhos e manter o mesmo registo porque a escola é que é importante! Cada vez há menos espaço para a leitura, para o sonho, para a música, para a dança, para o teatro, para a arte e para simplesmente brincar e fantasiar. E tão importante que isso é para as crianças. Tal como o ócio, aquele tempo para não fazer nada!
Aproveite as férias e leve os seus filhos para longe das rotinas que habitualmente possuem no seu dia-a-dia. Faça com que experimentem coisas novas. A sociedade contemporânea edifica paredes em volta das nossas vidas e preenche-as com tecnologia. É muito frequente encontrar crianças e adolescentes que pouco saem de casa ou espaços fechados e fazem outras actividades que não estar a ver televisão, navegar na internet ou jogar consola! Deixe isso de lado! Promova-lhes experiências ao ar livre e abra-lhes horizontes.
É importante que a criança tenha a liberdade de explorar, de conhecer, de experimentar novos desafios, de partir à aventura com novos amigos e até eventualmente descobrir a sua vocação. Importa que as crianças realizem actividades que lhes permitam desenvolver as suas competências sociais, artísticas e desportivas, que estimulem a sua criatividade, que aumentem a sua autoestima e autonomia. O brincar ajuda a desenvolver a noção espacial e corporal, a capacidade de solucionar problemas, a imaginação, entre tantas outras competências essenciais para um desenvolvimento cognitivo saudável.
Existem inúmeras actividades que estimulam as crianças e que devem ser ponderadas com maior cuidado e atenção do que os trabalhos de férias da escola. Actividades com movimento, por exemplo, ajudam à oxigenação do cérebro provocando bem-estar físico e psicológico, e quando as crianças praticam actividades com movimento fazem representações mentais, sendo estas fundamentais para a organização do raciocínio e construção do conhecimento. É compensador apostar em actividades desportivas e culturais, divertidas e ao mesmo tempo pedagógicas no período das férias escolares, proporcionando outras vivências para além da rotina diária, estímulos para que a criança possa conhecer mais proporcionando-lhe desafios cognitivos e novas “oportunidades de vida”.
É também um tempo privilegiado para a família, onde mais facilmente se coadunam horários e disponibilidades para o fortalecimento de laços familiares, e para fazer as coisas que durante o ano vão ficando de lado por falta de disponibilidade. As férias são feitas para aproveitar os melhores momentos da sua vida junto com a sua família, não deixe que nada atrapalhe esse momento tão especial, e tão importante. São estes momentos de disponibilidade física e emocional praticamente total, que fortalecem as uniões familiares, sobretudo com as crianças. É importante consagrar-lhes tempo de qualidade, mas também dedicar-lhes receptividade.
Disponibilidade para jogar, para passear, para ir à praia, para ver os desenhos animados, para andar de bicicleta, para ir ao cinema,.., para rir e sorrir com os seus filhos.
Durante o vosso tempo de férias não fale em escola nem em trabalho. Assim como para si quando está de férias deve deixar as preocupações do trabalho no trabalho, deixe nas férias da escola as coisas da escola na escola. Se necessário algum trabalho de reforço, deixe esse assunto para os últimos dias de férias, em Setembro. Aproveite este tempo em família ao máximo! Liberte-se do stress do trabalho e solte as crianças e adolescentes das angústias e preocupações escolares.
Recarregar baterias é importante para ambos e poder afastar-se emocionalmente da rotina é importante para possa regressar com mais motivação e vontade depois as férias. Aborde o regresso às aulas no final das férias, após as suas crianças terem sentido que valeu a pena e que esteve efectivamente com eles! Sentirão mais facilmente que valerá a pena o esforço escolar que terão de empenhar durante o próximo ano lectivo.
Não seja alarmista nem pessimista pois de nada o irão ajudar. Converse com os seus filhos percebendo as expectativas, as vontades, as ambições, os receios, as angústias e os desafios que se colocam no futuro. Tente antever possíveis dificuldades e equacione com eles formas de apoio e intervenção atempadas que possam ser necessárias. A consciencialização e visualização de cenários possíveis, ajudam a que as crianças percebam as atitudes dos pais, frequentemente incompreendidas.
Muitos referem que não gostam disto ou daquilo por mero desconhecimento. Leve-os a descobrir, parta à aventura natural, cultural, social, gastronómica, desportiva… Tente organizar os dias de férias com actividades enriquecedoras de boa disposição e momentos de família. Possam ir fazer passeios pedestres pela montanha, andar de bicicleta pela beira-mar, ir acampar, fazer um piquenique na serra, descer o rio de canoa, ir à praia fazer snorkeling, experimentar jogos tradicionais, combinar umas futeboladas com os amigos, visitar aquele parque temático que os miúdos tanto solicitam, ir ao jardim zoológico, correr na praia,…, são uma imensidão de actividades que poderá realizar ao ar livre, sem tecnologia ou telemóvel por perto!
Se tiver possibilidade, vá para um lugar desconhecido, onde ninguém possa estar fisicamente e emocionalmente afastado do trabalho para que não o encontrem nem o perturbem com assuntos que podem ser resolvidos depois. Poderá, com os seus filhos, conhecer novas regiões, contactar com novos costumes, hábitos e culturas que culturalmente o enriquecerão.
No entanto, não necessita de passar férias fora de casa para poder aproveitar todos estes momentos. Na sua região existirão certamente actividades à sua disposição que nunca fez, museus ou monumentos que nunca visitou. Mesmo que implique uma deslocação maior, o nosso país é relativamente pequeno para que num redor relativamente próximo possa encontrar actividades tão diversas e tão proveitosas sem que tenha de gastar uma quantia elevada de dinheiro.
Não decida tudo sozinho! Dê oportunidade de se deixar levar pelas sugestões de actividades dos seus filhos. Vá ao interesse deles e mostre-se disponível. Será um excelente modo de poder estar próximo deles com actividades dos interesses deles e não somente dos seus! Deixe-os escolher a praia, a piscina, o campismo,…
Não tente compensar os seus filhos do tempo que não se tem durante o ano. É um erro! Faça-os sentir que as férias são sempre momentos de maior disponibilidade por parte dos pais e se torna mais fácil que possam estar juntos. Reflictam com eles o seu dia-a-dia e verá que lhe irão dar excelentes sugestões para que possam estar juntos ao longo do ano. Podem combinar almoçar juntos uma vez por semana, arranjar um momento após o jantar para brincar com eles, tentarem conciliar horários para irem juntos ao ginásio ou praticar uma actividade desportiva (ténis, jogging, caminhada…), organizem actividades para os feriados e fins-de-semana.
Faça-os entender que são importantes para si não só nas férias, nem só como estudantes mas como filhos, e sempre!