Durante a gravidez, a mãe e o bebé permanecem ligados através do cordão umbilical, que fornece ao bebé o oxigénio e nutrientes de que necessita. Após o parto, é ainda possível extrair do cordão umbilical mais um bem precioso: células estaminais.
No início do desenvolvimento embrionário, para além da formação do embrião, que vai dar origem ao feto, começa a formar-se também a placenta – órgão essencial que faz a ponte entre a mãe e o bebé, fornecendo todo o oxigénio e nutrientes necessários ao desenvolvimento intrauterino, que são passados ao bebé através do cordão umbilical. Para além desta função, a placenta e o cordão umbilical também ajudam a eliminar toxinas prejudiciais do sangue do bebé. Durante o parto, o cordão umbilical pode, ainda, ter uma última função: servir como fonte de células estaminais para eventuais necessidades terapêuticas futuras.
No sangue que circula no cordão umbilical existem células estaminais, que podem ser facilmente colhidas, de forma rápida e totalmente indolor, logo após o nascimento do bebé. Estas células, descobertas em 1974, foram já usadas em mais de 45 mil transplantes em todo o mundo, sendo atualmente consideradas uma alternativa às células da medula óssea para transplante em caso de doença grave. Entre as doenças que podem ser tratadas com um transplante de medula óssea ou de sangue do cordão umbilical estão doenças hemato-oncológicas, como leucemias e linfomas, vários tipos de anemia, talassemias, doenças metabólicas graves e imunodeficiências.
Para além do sangue que está contido no cordão umbilical, também o próprio cordão umbilical, é muito rico em células estaminais. À semelhança do sangue do cordão, também o tecido do cordão umbilical pode ser colhido e armazenado, garantindo que se encontra disponível em caso de necessidade. O tecido do cordão umbilical tendo vindo a ser cada vez mais usado como fonte de células estaminais mesenquimais para tratamentos experimentais em ensaios clínicos, pela facilidade com que pode ser colhido e pela elevada capacidade destas células se multiplicarem em laboratório, gerando grandes quantidades de células, adequadas para utilização clínica. Desde o início do século, estas células têm vindo a ser estudadas numa gama cada vez mais alargada de doenças, nomeadamente musculoesqueléticas, cardíacas, pulmonares e autoimunes. As células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical têm múltiplas propriedades, que lhes conferem um grande potencial para o tratamento de doenças, nomeadamente a sua capacidade para regular o sistema imunitário, para proteger células do sistema nervoso e para estimular a regeneração dos tecidos e a formação de novos vasos sanguíneos.
Nas últimas décadas, as células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical têm vindo a ganhar notoriedade, pelo seu extraordinário potencial para aplicação clínica, estando registados mais de 500 ensaios clínicos com estas células, no âmbito do tratamento experimental de doenças como paralisia cerebral, autismo, AVC, artrite reumatoide e diabetes, entre muitas outras. Os resultados promissores que têm vindo a ser alcançados permitem antever o uso crescente destas células estaminais, permitindo ao cordão umbilical cumprir um último propósito após o nascimento do bebé: servir como fonte de células estaminais para eventuais necessidades terapêuticas futuras.