O Natal está a aproximar-se e, com ele, vem a azáfama dos presentes. A excitação das crianças é enorme, mas a dos adultos é muitas vezes maior, pelo que importa reflectir um pouco sobre este assunto.
“Quantidade”
O primeiro ponto sobre o qual vale a pena pensar tem a ver com a quantidade. Em grande parte das famílias as crianças recebem mais presentes do que aqueles com os quais conseguem efectivamente brincar. E essa quantidade é tão grande que cria dois grandes tipos de problema:
– Não usufruem do momento: Muitas vezes o momento da abertura dos presentes fica reduzido a um rasgar de papéis desenfreado, no qual a criança nem percebe muito bem o que está a fazer nem o que está a receber. Antes de acabar de abrir um presente já tem outro à frente e assim sucessivamente… Isto faz com que esse momento perca alguma da magia e com que a criança nem valorize adequadamente o que está a receber.
– Não usufruem dos brinquedos: As crianças não precisam de muitos brinquedos para brincar. Aliás, quando são muitos o que acontece é que ficam arrumados a um canto e em grande parte dos casos nunca mais se lembram deles. Acabam por ser todos “mais um”, que rapidamente cai no esquecimento e desaparece no meio da confusão de brinquedos.
Assim, vale a pena pensar neste assunto e as famílias organizarem-se para não acontecer esta situação. Podem combinar que alguns membros da família se juntam para dar um presente maior ou então estipular a regra de “um presente por pessoa”. Deste modo vai-se conseguir resolver um pouco este problema.
“Qualidade”
Este aspecto é mais subjectivo, mas por esse motivo é ainda mais importante pensar nele. Aqui ficam alguns pontos de reflexão que me parecem importantes:
– Escolha presentes adequados à idade: Esta recomendação é provavelmente a mais importante. Não se deve saltar etapas ao dar presentes que não sejam adequados à criança. O ideal é que eles possam ser usados mais ou menos quando são oferecidos, porque senão perdem o interesse, pelo que faz sentido escolher com base nesse pressuposto. Por outro lado, é importante também reforçar sempre a ideia de que os brinquedos para idades mais avançadas podem comportar riscos, que são evitáveis através de uma escolha adequada.
– Prefira presentes simples: Hoje em dia existe muito a tendência de escolher brinquedos muito complexos, com vista a fomentar uma melhor “aprendizagem” logo desde o início. Na verdade, as crianças pequenas precisam essencialmente de brinquedos simples, que lhes coloquem desafios e, se possível, que os estimulem em áreas que não são tão estimulados habitualmente (área motora, por exemplo). Não precisam propriamente de ser bilingues ou trilingues, basta serem desafiantes para as crianças.
– Tente fazer escolhas úteis: Este aspecto é muito importante, porque a utilidade dos presentes é que vai ditar o quanto as crianças vão usufruir deles. Os brinquedos estão à cabeça das listas nos primeiros anos de vida (e parece-me muito bem!), mas os livros podem e devem também ser uma opção, por exemplo. Aliás, se uma criança se habituar a receber e valorizar os livros logo desde os primeiros anos, vão continuar a fazê-lo para o resto da vida, muito provavelmente. Com o crescimento, também a roupa pode passar a ser um tipo de presente interessante e que se deve ensinar as crianças a valorizar.
– Tenha em atenção os gostos e vontades da criança (mas isso não implica que os siga de forma “cega”): As famosas “listas do Pai Natal” são uma tradição única e que faz sentido serem preservadas. No entanto, não é obrigatório que sejam uma obrigação para as famílias. Hoje em dia as crianças são completamente inundadas por todo o tipo de publicidade e isso faz com que algumas dessas listas sejam praticamente infindáveis. Assim, é importante tentar respeitar os gostos das crianças (quando isso for possível), mas elas também devem entender que nem sempre é possível receber tudo o que se deseja. Por outro lado, manter sempre um factor surpresa, oferecendo algo que não estava na “lista” pode ser interessante e um momento engraçado para criança, que percebe que existem mais opções para além das que ela tinha imaginado.
Estes são apenas alguns dos aspectos que me parecem importantes de ter em atenção nesta altura do ano, mas muitos mais haveria a incluir. No entanto, o que é verdadeiramente fundamental é tentar fazer com que as crianças encarem cada vez mais o Natal como a festa da Família e menos como a festa dos presentes. Sei que é difícil e a tendência corre no sentido oposto, mas depende de cada um de nós valorizar o Natal como acha melhor. E, se os presentes são uma coisa boa, a partilha e as vivências familiares são ainda mais!