Todos os pais desejam que os filhos um dia sejam independentes.
Que tenham a sua casa, o seu emprego, a sua família, os seus pertences, a sua independência financeira e que não necessitem dos pais para mais do que miminhos e boas noticias. Mas para num futuro independente, os alicerces dessa conquista iniciam bem cedo, por alturas na 1ª infância e 2ª infância.
É desde tenra idade que se promovem práticas de responsabilidade, de independência e de autonomia. É por isso importante que sejam os miúdos a iniciar a sua aprendizagem de tudo e em tudo de forma adequada. É certo e sabido que vão errar, que nos vão enervar e que muitas, mesmo muitas vezes, vamos querer fazer por eles para nos despacharmos, para ficar mais bem feito, para…, para…, argumentos não faltam e oportunidades para os embrenharmos e fazermos por eles também não. Contudo, sempre que usamos essas desculpas, vamos cortando, um bocadinho de cada vez, da autonomia que pretendemos proporcionar.
É fundamental para o seu crescimento que as crianças façam, façam mal, voltem a fazer, voltem a fazer mal, voltem a fazer até dominarem o processo que as conduz a fazerem maioritária e consecutivamente bem. Errar faz parte da aprendizagem. Devemos errar para aprender, mas também para aprender que não fazemos sempre bem e que ficamos desiludidos connosco. Mas vivemos confortavelmente com isso.
Observamos com frequência meninos e meninas deste Portugal demasiado dependentes dos seus papás e mamãs. Para lhes dar comida, para vestir, para relembrar dos trabalhos de casa, para levar às actividades deles, para lhes emprestar dinheiro mesmo quando já trabalham, para os acolher em suas casas praticamente até serem já pais e mães, para…, para…. É um crescendo de situações que avançam com a idade e teimam em não os fazer crescer nem deixar a asa maternal e paternal.
São muitos os pais demasiado tolerantes e muito apegados aos filhos e que se tornam menos eficientes na construção da autonomia dos seus filhos para o futuro. Dizer não parece ser cada vez mais difícil para os pais em que com alguma insistência os nãos passam a “nins”, que com algum choro e um pouco de birra se transformam em redondos “SIM, está bem! Mas só desta vez ouviste!”. E os miúdos pensam “sim, uma vez de cada vez…”, e lá vão levando água ao seu moinho. Conquista aqui conquista ali, vão criando precedentes que lhes dão argumentos fortes do tipo “ mas o pai deixou” ou “ das outras vezes deixaste”. Depois são exímios em jogar com algo que toca em todos os pais. Jogam com a sedução. “Vá lá papá querido, gosto tanto de ti” “és a melhor mãe do mundo deixa lá” e conquistam os corações derretendo-os de mimos e elogios que são difíceis de resistir!
Do ponto de vista da nossa caminhada em direcção à independência, os últimos passos foram para trás, ou seja, estamos a formar uma geração de pessoas mais inseguras e dependentes. As crianças são geralmente superprotegidas. Aprendemos com a psicologia a considerar os primeiros anos de vida como um período especialmente importante para a formação da personalidade. Aprendemos a entender, pelo menos a tentar entender, o funcionamento da razão e de como as emoções se manifestam nas crianças e nos adolescentes. Aprendemos a valorizar suas as dores e a dar mais ouvido às suas necessidades. Essa preocupação é, sem dúvida, positiva. Infelizmente, há o outro lado da moeda. Os pais passaram a ter mais receio de agir com firmeza e disciplina em relação aos filhos.
Muitos pais, perante os reizinhos e rainhazinhas lá de casa, passaram a ter receio de agir com firmeza e disciplina com os seus filhos. Será culpa dos psicólogos e de tanto se falar em crianças traumatizadas? Terão os pais receio de traumatizar as suas crianças pensando causar-lhes danos irreparáveis que lhes cobrarão no futuro?
Ora ser assertivo, coerente e agir com as regras não traumatiza ninguém. É importante que os miúdos as percebam. Que evitemos o não pelo não e o sim porque sim. Se assim for não existem danos psicológicos irreparáveis em sermos rígidos mas assertivos.
Ser rígido não significa ser inflexível, ou insensível, mas sim coerente com o que se pretende num futuro. A ideia será pensar como quero que o meu filho reaja daqui a 5 anos, e daqui a 10 e a 20? Projectar o pensamento comportamental num futuro cada vez mais longínquo ajuda a perceber o que temos de fazer durante a infância para o conquistar.
Acho particularmente estranho existir crianças que, de tão grandes, quase não cabem nos carrinhos de bebés, mas que lá vão confortavelmente com os seus papás e mamãs a suar de os empurrar sempre se vão sair. “Assim é mais rápido”, “assim ele não foge de junto de mim”, “assim ela não corre a ir buscar os brinquedos”, “ ele estava tão cansado”, e por ai em diante. Diz o ditado que se não gostas de sopa tens de comer mais até passares a gostar. Aqui têm de andar até saberem “andar”.
Andar junto dos pais, não correr e atravessar as ruas, não pedir nem conseguir tudo o que pedem e desejam são preocupações de todos os pais, mas conseguem-se promovendo assertividade entre o que se diz e o que se faz. Os pais devem proporcionar experiencias para que a criança se habitue ao comportamento desejado. Se as crianças fazem birra por ir às compras, comece por a levar ao minimercado, só depois ao supermercado, só depois ao hipermercado e por fim ao shopping! Se começar pelos grandes centros comerciais a probabilidade de haverem muitos, mesmo muitos estímulos distractores para a criança é demasiado grande. É uma tentação enorme para eles quando o marketing está pensado para lhes captar atenção.