Recentemente tem-se assistido ao debate sobre a nova série da Netflix (Squid Game) e à sua possível influência no comportamento das crianças e jovens. E, na verdade, essa é mesmo uma discussão importante de ter, mas que vai muito além desta série. Passo a explicar porquê…
- Todas as séries e jogos têm uma classificação etária (ou seja, a idade a partir da qual estão aconselhados ou permitidos)
Muitas pessoas se preocupam em saber se um puzzle ou uns legos são adequados a determinada idade, quando comparam um presente para um bebé. No entanto, esquecem-se que todos os jogos e séries têm também esse tipo de classificação, que deve ser respeitada, porque permite distinguir o que é adequado do que é potencialmente desadequado e que pode conter comportamentos violentos, de cariz sexual ou consumos, por exemplo.
- As crianças e adolescentes têm o seu cérebro em desenvolvimento
Não, as crianças não são adultos em miniatura! O seu cérebro está crescer e adesenvolver-se e precisa dos estímulos certos para que isso aconteça de forma correta. Até porque os estímulos incorretos vão fazer com que esse desenvolvimento aconteça de forma desadequada.
- A maturidade desenvolve-se com o tempo
É inegável que é o tempo que permite adquirir maturidade. E, por muito que se tente acelerar o processo, isso não é possível. A forma como nós lidamos com a informação que nos chega depende de muitos fatores e das experiências por que já passámos. A isso chama-se maturidade e, claramente, é algo que se desenvolve todos os dias e não é na infância nem na adolescência que está completamente estabelecida.
- As crianças e adolescentes (e muitos adultos também!) são influenciáveis
Claro que a maior parte dos adolescentes que vêm conteúdos desadequado não vai virar delinquente! Mas a informação vai ficando retida nos seus cérebro e haverá alguns que vão ajustar o seu comportamento ao que vão observando. E, se o que vêm não é correto, são também esse os princípio que eles vão “absorver” e que vão ditar parte dos seus sentimentos e comportamentos no futuro.
Estes são apenas alguns pontos que me parecem importantes, mas há muitos mais que se podem discutir. No entanto, perante todos estes factos, há uma verdade que me parece inquestionável: é preciso haver controlo parental! E, quando falo em controlo parental, não falo (de todo!) em bisbilhotar o telemóvel dos filhos. Isso é invasão de privacidade e não deve nunca ser feito, desde que eles hajam com a responsabilidade que lhes é exigida. Não tenho problema nenhum em afirmar que, até prova em contrário, ninguém deve espiar ou mexer no telemóvel de um filho sem autorização! Isso, para mim, é um princípio básico que deve ser sempre respeitado…
O controlo parental é algo muito mais importante do que isso. É a linha que define a que é que as crianças e adolescentes podem ter acesso. No fundo, é uma forma de colocar um limite à quantidade infinita de conteúdos que existem na internet e que, em muitos casos, não são adequados à população não adulta. Se um conteúdo não for adequado aos meus filhos, eu não os devo deixar ter acesso a ele. É tão simples quanto isso…
Os bebés podem brincar com facas? Não, porque têm controlo parental!
As crianças podem brincar com fogo? Não, porque têm controlo parental!
As crianças podem ir sozinhas para o mar? Não, porque têm controlo parental!
Os adolescentes podem conduzir um carro? Não, porque têm controlo parental!
As crianças e adolescentes podem ver conteúdos que não são adequados à idade deles? Não deviam, porque deveria existir controlo parental!
Por isso mesmo, chegou a hora de por de parte os falsos pudores de que, por serem meios digitais, o controlo parental já não se equaciona. Acho que é exatamente o contrário, é precisamente por serem meios digitais, sem nenhum tipo de controlo de terceiros, que o controlo parental se justifica. Porque, se não o fizermos, vamos estar a expor as nossas crianças e adolescentes a muitos conteúdos que lhes vão ser mais prejudiciais do que benéficos.
As crianças têm muito tempo para ser adultos, vamos deixá-las ser crianças por agora. Garanto que elas vão acabar por crescer. Sem pressas…