“Oh Marco, mas o meu filho tem 7 anos, nós andamos nisto há cinco… porque é que nunca me falaram de terapia ocupacional antes?”
São raras as vezes em que uma avaliação ou reunião numa escola termina sem que esta pergunta seja feita. Esta, era a vez da mãe da criança que me tinha sido encaminhada pela pediatra, para avaliação por problemas de coordenação motora!
A pergunta era quase um desabafo, mas eu já tinha respondido anteriormente a centenas de mães com a mesma dúvida!
A verdade é que, embora seja uma profissão com mais de 100 anos de história (teve o seu início nos Estados Unidos da América em 1917), a terapia ocupacional é ainda desconhecida para a maioria das famílias portuguesas.
Comecemos então pelo principal:
O que faz um terapeuta ocupacional em pediatria?
Em pediatria, um terapeuta ocupacional trabalha com crianças que estão a evidenciar problemas de participação numa ou mais áreas de ocupação (está a ver de onde vem o nome ocupacional, certo?).
Estas crianças podem ou não ter um diagnóstico médico e quando chegam “às mãos “do terapeuta ocupacional este avalia sistematicamente, não só a criança – os seus pontos fortes e as suas fragilidades – mas também os contextos onde essa criança atua (casa, escola, etc.), envolvendo-a no processo terapêutico, para em conjunto com a família e principais intervenientes, reabilitar, adaptar e potenciar um desempenho ocupacional satisfatório nessas áreas de ocupação mais frágeis!
E o que são áreas de ocupação?
Áreas de ocupação são áreas de vida, importantíssimas para a nossa vivência em sociedade e desenvolvimento como seres humanos. Estas áreas englobam atividades como comer, tomar banho e dormir (chamadas de AVDs ou Atividades de Vida Diária), brincar e interagir com os outros, aprender, entre outras.
Após esclarecer o porquê da criança estar a demonstrar dificuldades de participação nestas áreas, o terapeuta ocupacional desenha e implementa um programa de intervenção específico para cada criança e família, no sentido de dotar a criança com capacidades que lhe permitam ter mais sucesso no seu dia-a-dia e ajudar a família a encontrar estratégias para aumentar a participação e facilitar o envolvimento da criança nas atividades e ocupações que são significativas para a criança.
Ok… mas então e aquela criança do início do texto? Porque é que uma criança com problemas de coordenação motora vai parar à terapia ocupacional?
Bem, a verdade é que os problemas de coordenação motora, por si só, não são um problema! Contudo, grande parte das vezes, acabam por ter um impacto muito significativo na forma como a criança desempenha uma imensidade de atividades! Pense comigo… A coordenação motora refere-se à capacidade de usar os dois lados do corpo em simultâneo. A questão é que o nosso dia-a-dia está cheio de atividades que exigem a coordenação dos dois lados do corpo!! Abotoar a camisa ou as calças, amarrar os cordões dos sapatos, recortar com tesouras, tirar a tampa de um iogurte, comer com talheres! Estas são apenas algumas das atividades em que nós usamos os dois lados do corpo e nem temos que pensar muito nisso! Crianças com problemas de coordenação motora podem evidenciar dificuldades em desempenhar estas atividades e outras tarefas, levando a que as aprendizagens sejam mais demoradas, podendo até de problemas de entrosamento com os pares e de autoestima.
Depois de avaliar a criança e o seu contexto, o terapeuta ocupacional vai selecionar estratégias para facilitar o desempenho da criança, pode sugerir a pais e professores pequenas adaptações na tarefa para a tornar mais adequada às capacidades da criança e vai implementar uma série de atividades especificamente pensadas para aquela criança, que permitam desenvolver as suas capacidades de coordenação motora! Essas atividades são frequentemente bastante divertidas e consistem em brincadeiras e jogos terapêuticos para que a criança se mantenha motivada e envolvida ao longo do processo de intervenção! Porque no fundo, brincar é a melhor forma de aprender!
E pronto, agora já tem uma melhor ideia do que faz um terapeuta ocupacional pediátrico. Espero que continue desse lado para os próximos artigos onde vou apresentar sempre uma ou outra estratégia para potenciais problemas nas diferentes áreas de ocupação na infância!
Um abraço
Marco Leão